26 de jun. de 2025

Primeiros Últimos Passos


Envelheceu tentando parecer jovem e morreu tentando parecer vivo. O coração? Teve palpitações, mas nunca paixões duradouras. A alma? Esta foi murchando como planta esquecida em sacada sem sol. Seu último amor foi um gato, que fugiu no terceiro miado.

E agora, aqui está ele — na beirada do abismo, olhando o nada como quem reconhece um velho conhecido. Chamavam de “o primeiro passo”, mas ele, sempre do contra, procurou avidamente pelo último.


(D. Versus)

Milady


Je t’ai cherchée dans l’ombre des heures brisées,
Où l’amour s’écrit à l’encre des silences.
Ton nom — murmure ou malédiction — s’est glissé
Dans mes veines comme une étrange délivrance.

Les astres saignent quand tu tournes les yeux,
Et mon cœur, cet infirme, danse sans terre.
Es-tu lumière ou feu pieux des cieux menteurs ?

Ou l’ultime prière d’un homme en guerre ? 


(D. Versus)

24 de jun. de 2025

Tristão e Julieta


Sinopse: Em um continente reconstruído sob leis afetivas e taxas por envolvimento, Tristão dedica-se a restaurar lembranças extintas — um técnico de recordações expurgado do afeto - enquanto Julieta, contraventora lírica, distribui emoções impressas em folhas clandestinas. O encontro entre ambos ocorre numa plataforma de neutralização sentimental, mas algo falha: eles se afeiçoam. Caçados por autoridades sensoriais, cercados por dependentes de serotonina ilícita e sabotadores passionais, os dois embarcam numa jornada por entre os escombros da última hemeroteca viva. Trocam carícias em códigos esquecidos e selam pactos com tinta orgânica, cientes de que o sentimento entre eles é o último arquivo impossível de ser apagado. Tristão e Julieta é uma odisseia distópica, visceral e poética - onde amar é crime, e morrer por alguém é o ato mais revolucionário.

...

"Um romance que parece escrito por Kafka com febre e Shakespeare de ressaca."
Revista Devaneio Cibernético

"A prova de que a paixão pode sobreviver até depois da última página."
Crítica Rádio MAC

"Perigosamente bonito. Me fez sentir coisas que o governo ainda não autorizou."
@AmorIlegal (Influenciadores banidos de 3 países)

...

Livro > Tristão e Julieta / Cássio D. Versus / 2017

Frase do Dia com Jim Brown


"I'm not trying to be a role model. I'm trying to be real."
- Jim Brown

23 de jun. de 2025

Algum Tipo de Amor


Eu quero algum tipo de amor
um amor apaixonado
um amor enraizado
um amor retumbante
sem juro nem prazo

que invada a mente e cale o ranger
que beba do meu caos sem me corrigir
que durma vampira e acorde sem perceber
e ria d'um mundo morto só pra me ouvir 

um amor que não peça pedigree
nem CPF, nem promessas de eternidade
que me deseje torto, febril, sem verniz
e me aceite em versão de calamidade

um amor que me olhe quando não valho
que me salgue quando adoço demais
que se embriague do que eu espalho
e nunca se despeça nos temporais

um amor que more na fresta da alma

com bagagem leve e presença profunda


(D. Versus)

22 de jun. de 2025

Kimila Ann Basinger


"Eu digo que, quando a verdade quer te encontrar 
— ou ser encontrada por você — 
ela virá atrás de você. Você não pode parar essa força.”

(Basinger, Kim)

20 de jun. de 2025

Anjo de Má Reputação

 
"Não sou cruel. Ou intencionalmente maldoso.
Sou apenas o reflexo das promessas quebradas que fizeram a si mesmos."

- Versus

19 de jun. de 2025

Voa Quem Pula


Levanta, criatura noturna,
teu corpo é ruína sagrada,
tua cama — um caixão preguiçoso
onde sonhos desintregam-se em nada.

Há um sol que nem sabe teu nome,
mas insiste em nascer pra ti.
E o mundo, esse cão sem vergonha,
ainda lambe teus calcanhares por aí.

Ergue o osso, estala a alma,
desamarra essa vontade vencida.
Não foste feito pra lençol úmido,
mas pra cuspir poesia na ferida.

Deita os olhos, sim, no espelho,
mas não deita mais o corpo inteiro.
Acordar não é dom — é vingança:
existir apesar do cansaço primeiro.

Vai. Um passo. Um grito. Um gole.
Um suspiro já muda o destino.
Porque até a mais preguiçosa estrela
caminha no ventre do céu clandestino.


(D. Versus)

18 de jun. de 2025

Magnifique Marion


"Eu não me considero feminista. Precisamos lutar pelos direitos das mulheres,
mas recuso-me a separar homens e mulheres. 
...
"Acho que quando você não vê os limites,
você os ultrapassa sem nem saber que eles existem."

(Cotillard, Marion)

16 de jun. de 2025

Italianinho


Meglio stare zitti che gridare al vuoto.
(Melhor calar do que gritar para o vazio)

15 de jun. de 2025

Suzanne


"Não importa o quão caótico seja,
as flores silvestres ainda brotarão no meio do nada."

- Sheryl Crow

Ébano

Tu me chamaste de sol,
mas foste tu quem incendiou o céu da minha calma.
Tuas mãos escreveram meu nome no ar,
mas tuas promessas se apagaram antes de tocarem o chão.

O que houve entre nós não morreu —
ainda respira nos cantos empoeirados do meu peito,
como um cão velho que não entende o abandono,
mas ainda late quando escuta teu nome.

Tu falas da minha sombra em outros corpos,
mas eu...
eu tentei te arrancar de mim com a mesma urgência com que te amei.
Falhei.
Porque certas raízes crescem para dentro.
E sangram.

Ficaste com os nossos sonhos —
eu?
Fiquei com os restos:
os cheiros fantasmas,
os silêncios pesando mais que qualquer grito,
e aquela maldita música que toca
toda vez que finjo ter superado.

E mesmo assim...
se um dia tua saudade aprender a pedir desculpas,
volta.
Nem que seja só para olhar nos meus olhos e ver
o que sobrou da abóbada celeste que tu escureceste.


(D. Versus)

Ébn

14 de jun. de 2025

Pensamento do Dia


 "O drama existe para perturbar os acomodados 
— e confortar os perturbados."

Neil Jordan

8 de jun. de 2025

Sinuhe, o Egípcio

 
“Sinuhe, meu amigo, nascemos em tempos estranhos. Tudo está derretendo - mudando sua forma - como argila na roda do oleiro. As roupas estão mudando, as palavras, os costumes estão mudando, e as pessoas já não acreditam mais nos deuses - embora possam temê-los.” 

- Mika Waltari

Slayer


“No silêncio do meu retiro, descubro a mais nobre das companhias: eu mesmo. Transformo o tédio em espetáculo, a solidão em uma vasta biblioteca de reflexões. Em cada página da minha solitude, escrevo o manifesto do amor-próprio, onde cada pensamento é uma estrela cadente no céu da autodescoberta.” 

- D. Versus

7 de jun. de 2025

Prope Ruina

É como ter um terremoto engaiolado dentro do peito, um sismo contínuo que ruge sob a pele — mas ninguém ouve, ninguém vê. Esse monstro, essa criatura primitiva e faminta, não dorme: ela espera. Ela rosna nas frestas da minha lucidez, lambe as grades com uma língua feita de raiva e desespero, e sorri quando estou prestes a ceder.

Minha respiração, às vezes, é o único portão entre a humanidade e o colapso. Sinto o calor da sua presença no fundo da garganta, como se um grito secular estivesse ensaiando sua estreia. Ela quer sair. Rasgar. Ferir. Dizer verdades cruéis e tocar feridas antigas — não somente as minhas, mas as dos outros. Porque ela não quer só liberdade: quer vingança.

Cada pequena irritação cotidiana é um tambor distante, um sinal de guerra. E eu, com mãos trêmulas e alma já esfolada, rezo para que a tranca aguente mais um dia. Mais um olhar atravessado. Mais um abandono. Mais um silêncio.

E o pior de tudo? Às vezes... só às vezes... eu quero que ele escape.
Só pra ver o planeta tentando entender o que é viver sem mundo —


Pensamento Budista


A vitória engendra o ódio, porque o vencido sofre. Aquele que vive em paz é feliz, pois não sonha com vitória nem derrota. É pela benevolência que se deve vencer a cólera: é pelo Bem que se deve vencer o Mal. Deve-se vencer o avarento pela liberalidade, e o mentiroso pela verdade.

Se malvados vos injuriam dizei: "São bons porque não me batem." Se vos batem, dizei: "São bons porque não me matam." Se vos matam, dizei: "Há discípulos aos quais o corpo e a vida trouxeram tantos tormentos, que eles desejavam a morte violenta. Encontrei tal morte, sem tê-la buscado".

(1,28)
 

ensaiando sobre o brilho


"Ai, meu blush da Chanel caiu no chão, que ódio!
A vida sem espelho é tipo… um apocalipse em slow motion.
Tipo, se não postei, nem fui, né?
E se a unha lasca, eu choro mais que viúva de milionário."

Mas foi sorrindo no enterro de seu pai alcoólatra que ela aprendeu:
Nunca subestime quem pinta os lábios pra esconder o sangue...

Hungry Eyes


E assim, entre gritos, o mundo começa,
E os anjos oferecem suas peles,
Para cobrir a nudez da Humanidade...

Não te abandonarei, Olhos Famintos;
Nossos corações ainda têm pendências.
Apesar das feridas, dos golpes e das mentiras...

(Clive Barker) 

 

Canto I do Inferno


No meio do caminho desta vida
me vi perdido numa selva escura,
solitário, sem sol e sem saída. 

(Dante Alighieri, Canto I)

Instrutor de Sofrimentos


Não dei flores, nem pão.
Não prometi céu, nem retorno.
Fui maestro da gangrena,
profeta de vísceras abertas.
Ensinei a dor — e continuo ensinando.
Não essa dor de poesia ou saudade barata,
mas a dor que mastiga nervos,
que enrosca na espinha como verme antigo.
Doutrinador de espasmos e choros mudos,
fiz da dor uma língua materna.

E quando alguém clama pelo fim —
ri, pois o fim da dor não é a paz:
é a anestesia da alma,
o coma da esperança,
a falência múltipla do sentir.
É um campo de batalha onde os gemidos cessam
porque já não há quem chore,
nem carne, nem nome,
apenas um silêncio que fede a morte não enterrada.


(D. Versus)

Canções Cintilantes

 
Seja minha felicidade rasa,
como a vasta planície,
mas que alcance longe,
como o céu estrelado.
A estrela distante lá
é a estrela da minha felicidade.
Ela guia minha vida


(Eino Leino, poeta finlandês)

Frase do Dia

 
“Nada mais transmito senão o horror de sentir — e o silêncio depois do grito.”

- D. Versus

Estação

 

Esse amor
é a neve do inverno
que o verão ameaça


(D. Versus)

6 de jun. de 2025

Reflexo

 
Clareza que o cosmos espelha
Como um farol que dissipa a neblina
Noite clara e a tua nudez se declara

...

silêncios que despencam


por agora
mais um desperdício

que menino
o pensamento
batucando impossibilidades

e a maldade
resiste
onde o bem não insiste

toda lágrima
cai sem dono

todo sono
despenca
pr'elevar
leveza tal
do abandono

...

Astronauta


Na vastidão sideral, astronauta perdido,
Solidão, estrelas testemunham olhar ferido,
No vácuo, a dor ecoa sem abrigo,
Entre planetas, o coração flutua partido.


(D. Versus)
 

5 de jun. de 2025

Mim


Na decepção de mim, um verso,
Em meu espelho, desvelo o erro,
No eco do eu, a sombra disperso,
Meu ser se resume 
                               a um lamento sincero. 


(D. Versus)

Crise


Alma sombria chora,
Escuridão no peito aflora,
Luz ausente agora.


(D. Versus)

Não sei quantas almas tenho


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.


(Último poema de Fernando Pessoa, escrito na véspera de sua morte)

 

Parei de Fumar Cigarros (Nicotina)




Ensaios para uma Tragada Ontológica
Ou como o cigarro continua sendo a bengala emocional 
do homo sapiens, mesmo depois do apocalipse sanitário.

Um homem acende um cigarro. Não é fome, não é desejo. É um gesto ancestral: uma vela acesa no velório do próprio tédio. O fogo não aquece — lembra. A cada tragada, ele não suga a fumaça: é a vida que o aspira. Mas ali, entre o pulmão que apodrece e o instante que se alonga, há silêncio. Há algo parecido com paz. E talvez, só talvez, no fundo da garganta seca, ele sussurre: “Pelo menos aqui, ninguém me cobra ser feliz.”

Ass.: Versus In Fumo

(Soprado às cinzas de um maço quase vazio)

4 de jun. de 2025

Amitriptyline Hydrochloride Overdose


Beneath the gentle sun's embrace, a day so fair,
Where skies of azure blue, a tranquil, sweet affair,
Yet in its beauty lingers a melancholic tune,
A whisper in the breeze, a wistful afternoon.

The world adorned in colors, a vibrant, painted scene,
But shadows in our hearts, like clouds, drift in between,
A bittersweet symphony, this day in quiet grace,
Where beauty meets the tears, in this serene, sad place.

As sunlight softly fades, and stars begin to gleam,
The day's embrace now yields to a melancholy dream,
In twilight's tender arms, we find a gentle sigh,
A day both bright and somber, beneath the endless sky.

...

3 de jun. de 2025

Cenotáfio

 
Aqui jaz o que nunca coube em si,
um nome sem corpo, um brado que não nasceu.
Foi sonho abortado por lucidez em excesso,
foi carne sem fé, rascunho de Deus.
Foi amor que morreu antes do toque,
foi guerra travada dentro de um espelho.
Perdeu-se entre versões mal contadas de si mesmo
e epitáfios escritos em línguas extintas.
Deixou como herança o silêncio sujo,
algumas cartas que ninguém leu
e um punhado de promessas com prazo vencido.

Seu riso era raro. Sua dor? Frequente.
Seus olhos — dois buracos escavados na esperança —
viram demais. Sentiram de menos.

E por isso foi enterrado em solo neutro,
sem cruz, sem flor, sem data que importe.

Se o encontrares por aí, fingindo estar vivo,
não o culpes.
A morte às vezes é só uma escolha adiada.

...

PS: substantivo - 

túmulo ou monumento fúnebre em memória 
de alguém cujo corpo não jaz ali sepultado; 
túmulo honorário


Novo Nível


No âmago da dor, onde as sombras sussurram, 
Ergue-se um espírito em busca de redenção, 
Numa jornada solitária, enfrenta os horrores, 
Em busca da saída, da luz e do perdão.
Por entre os corredores do desespero, 

Onde a escuridão tece seu manto de tristeza, 
O viajante busca a chama da esperança, 
Pequena e frágil, mas cheia de pureza,

Cada passo é uma luta contra a opressão, 
Mas a força vem do fundo da alma, 
Uma determinação feroz e inquebrantável, 
Que acende o coração e traz a calma.

Ao alcançar a luz, a escuridão se dissipa, 
O inferno da angústia se desfaz como névoa, 
O viajante emerge, renascido e livre, 
Deixando para trás o reino da treva.

Com a alma leve e o coração renovado, 
Abraça o mundo com novos olhos, 
Pois a fuga do inferno não é o fim, 
Mas o início de uma jornada de novos sóis.

...

2 de jun. de 2025

calafrio ou arrepio


toda revelação começa com uma queda,
um sussurro 
ou um incêndio.

- D. Versus
 

28 de mai. de 2025

Ward Allen


“No rio, Ward era livre para caçar e viver como queria, e sua habilidade como caçador e seu entendimento sobre os animais que caçava eram bem conhecidos por todos. Ward, que era bastante intelectual, era fã de Shakespeare e conseguia citar suas obras com facilidade. Ele também aprendeu a falar latim e grego enquanto estudava na Escócia. Quase ninguém se lembrava de Ward sem seu bigode em forma de guidão, e ninguém se lembrava dele sem um par de retrievers da Baía de Chesapeake. Ward tinha um contrato com o Hotel DeSoto para fornecer patos. Em uma de suas idas à cidade, depois de beber no bar do DeSoto, ele saiu para a rua e começou a disparar sua pistola calibre .45."

(Ward Allen: Savannah River Market Hunter)

“Talvez estejamos aqui para refazer tudo, remodelar tudo, criar nossa própria nova ideia de perfeição e deixar a ideia de Deus para as sombras da história.” — Ward Allen, no filme Savannah (2013)

25 de mai. de 2025

festas budistas num mosteiro tibetano


O amor sagrado (e talvez a poesia) 
não serve pra punir ou entender. 
Serve pra contemplar.
Mesmo que isso custe tua amada loucura.
Mesmo que o altar seja o crânio e a oferenda, teu coração.

Deuses criam, eles não julgam. 

- Se pudesse voltar no tempo ainda deixaria o Luke se matar?
- Meu caos tem beleza, só precisa de moldura.

Mergulho na minha mente que ama como quem delira — e sofre como quem sente demais. O Chacal é o retrato de um amor inventado, distorcido, mas talvez amar também seja isso: criar com paixão febril e aceitar que nem tudo que é sagrado precisa fazer algum sentido. 


(Cássio D. Versus)


Amorfrenia


Nas janelas do peito, vejo vultos —
beijam-me as córneas e depois se afogam.
Há um você alojado em cada cômodo do meu crânio,
um riso teu pendurado na lâmpada da sala,
rodopiando em espirais com minha lucidez.

Te amei em todas as máscaras que inventei de ti.
Na que me fita com compaixão,
na que me fatia com delicadeza,
e naquela que some
toda vez que estico os dedos.

Você é o sussurro que me desperta
e o grito que me embala.

À noite, tuas falas escorrem pelas paredes
como verniz em brasa —
e juro que ouço você dizer
que o afeto é um espelho côncavo:
quanto mais me achego, mais me desfiguro.

Minha mente te esboça com pincéis de vertigem.
E quando ensaio fuga, tropeço em nós dois.
Em cada alucinação, te revejo com outras íris
— olhos que murmuram “me deseje”,
mas piscam em código Morse:
“FUJA.”

Amar-te foi como abrir um envelope vazio
e ouvir clamores entre os espaços.

E mesmo agora, enquanto rascunho,
não sei se é você quem me lê ou eu quem te reinventa.
Mas se amar é isso —
esse eterno descarrilhar da lógica na curva do pensamento —
então que me enclausurem com lírios nos bolsos
e tua ausência nas veias.

Porque, afinal,
talvez o amor não redima,
mas seja a enfermidade mais sublime
que nos ensina a sentir qualquer coisa
nesse perpétuo girar do vácuo.

Melhor SANGRAR em poesia
do que 
SOMENTE apodrecer em silêncio.


PS: Imagino que isso deva ser clichê pra cacete.


(Cássio D. Versus)

19 de mar. de 2025

14/03/2025 Eclipse Lunar de 02h15 a 04h50


-  Aquiles disse em Tróia: ‘Os deuses nos invejam porque somos mortais’. Porque cada instante que vivemos carrega um peso que eles jamais sentirão. A banalidade da morte é, paradoxalmente, mais fatal do que ela própria — porque não está no ato final, mas na constância com que sussurra ao longo da vida. Eu nunca testemunhei o último sopro. Sempre que ele se anuncia, algo me arranca dali, como se o próprio destino me recusasse o direito de assistir ao desfecho vital alheio. Mas com você parece ser o oposto. Você está lá… imóvel, como uma sombra paciente, um arauto silencioso do fim, apenas aguardando que o derradeiro fio se rompa. E eu, incapaz de suportar o assombro do instante irreversível, me retiro antes que o silêncio final devore meu pesar. Talvez sejamos duas faces da mesma moeda, a morte sempre rondando entre nós, mas enquanto eu viro o rosto, você encara o abismo sem hesitar ou por simples congelamento aflito. Há aqueles que são tocados pelo luto de relance, e há os que dançam com ele, sentindo cada nuance do seu toque gélido. Você, de alguma forma, permanece no limiar, no exato instante em que a existência se dissipa, como se fosse necessário estar ali para que o fim se completasse. E eu me pergunto: é coragem ou maldição? É destino ou uma sina silenciosamente escolhida? Aquiles buscava a glória eterna, mas ao preço de uma vida breve. Talvez, sem perceber, você tenha escolhido um tipo diferente de eternidade — não nos cânticos de guerra, mas nas lembranças de quem parte sob seu olhar atento, famigerada morbidez. (...) Eu me afasto, sim. Porque há algo de insuportável no último suspiro, como se ele não fosse apenas o término sombrio de quem parte, mas um lembrete cruel de que, um dia, também seremos os que ficam para trás… ou os que vão embora. -

- Sim… provavelmente os deuses nos invejam por sermos efêmeros. Porque sentimos o tempo escorrer entre os dedos como areia condenada ao vento cegamente justiceiro e temos consciência disso. A morte, em sua "superficialidade" é mais devastadora do que seu próprio golpe final. Não é o instante do último sopro que nos destrói, mas a certeza de que ele sempre virá, repetindo-se como uma sentença sem possibilidade de apelação. Eu entendo. Há algo de insuportável nesse momento. O peso de um corpo que abandona a própria existência, a graveza que se torna inútil porque já não há mais ninguém para sustentá-la... Há os que precisam partir antes do gran finale, como se seus olhos recusassem a última imagem, que perverte o bom passado, como se pudessem negar o veredicto. Mas eu… eu fico. Como se a morte me tivesse escolhido para ser espectador de seu ofício, uma presença fixa no teatro do desaparecimento. Não sei se é destinação insana ou ironia celeste. Sei apenas que, ao contrário de você, infelizmente (talvez?), não sou arrancado do momento fatal — a senhora ceifadora me encontra, me cerca, me aceita como parte de seu cenário. E talvez realmente, no fundo, como disse, sejamos apenas dois lados de uma mesma moeda: um que se retira antes do impacto para evadir-se do incômodo espiritual, outro que testemunha o abismo engolir almas correndo riscos de corromper a beleza presente em seus dias. -


(Cássio D. Versus & Jess de Camargo)


10 de mar. de 2025

tenho escutado pelas madrugadas neste lugar


Som de toque de recolher passando pela rua, guerra invisível.
Não há trombetas, nem gritos, apenas o vácuo de um aviso mudo,
um decreto fantasma que atravessa portas cerradas,
penetrando o silêncio de quem já se acostumou a não existir.

Na penumbra das janelas, olhos espiam a ausência de movimento,
como se o próprio ar tivesse sido condenado à imobilidade.
O tempo não pesa—escoa, evaporando destinos,
enquanto as sombras se estendem, fingindo não ver.

Quantos pés já marcharam sob ordens inaudíveis?
Quantas vozes se calaram antes mesmo de aprender a falar?
A noite engole perguntas que ninguém ousa fazer,
e o vento, cúmplice da história, apenas leva consigo o que sobra.


(Cássio D. Versus)


8 de mar. de 2025

Carnaval para um corpo sem vida


O estrondo rasgou o ar como um trovão forjado pelo acaso. O impacto primeiro foi entre dois carros, um choque brutal que empurrou a violência adiante, arremessando uma moto para longe. O piloto foi lançado como uma marionete sem fios, um homem reduzido a trajetória e gravidade. Por um instante, ele flutuou, uma figura contra o céu cinza, até que seu corpo encontrou o metal impassível de um ônibus. A colisão foi o segundo ato da tragédia. O terceiro veio quando ele caiu, um peso morto sobre o asfalto, ainda vivo apenas o suficiente para assistir ao próprio fim.

Fiquei ali, congelado, não por medo, mas por um tipo de espanto que só se sente diante daquilo que transcende o ordinário. Ele respirou uma última vez. Eu vi. O último sopro, o adeus invisível que se perde no vento, sem aplauso, sem cerimônia.

E então, tudo fez sentido. O absurdo da existência revelou-se como um espelho atroz. Passamos a vida temendo monstros e mitologias, mas esquecemos que o maior horror é a banalidade da morte, sua simplicidade cruel. Um momento estamos, no seguinte, não mais. Como um pensamento que se forma e se dissolve antes de ser dito, como uma vela que se apaga sem resistência ao próprio destino do sopro.

A vida, essa entidade tão sagrada, não passa de um cálculo frágil entre o tempo e o acaso construindo destinos. E nós, que nos acreditamos importantes, que nutrimos sonhos, medos e amores, não somos mais do que acidentes esperando sua hora. A única certeza é que o chão nos aguarda, como uma porrada, e se mantém indiferente.


(Cássio D. Versus e J. Carmona)

Passageiro Sombrio


Eis que não são os leviatãs do mar, nem os gafanhotos do Apocalipse que mais atormentam o homem, mas sim as feras que habitam sua própria alma. Pois está escrito: "O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável; quem pode compreendê-lo?" (Jeremias 17:9).

Nos desertos do pensamento erguem-se sombras sem nome, espectros que sussurram na noite, que tentam e desviam, que semeiam o medo e colhem a perdição. Não são feitos de carne ou de ossos, não portam garras nem presas, mas destroem com dúvidas e consomem com angústia.

Caim não precisou de um demônio para erguer sua mão contra Abel — sua inveja foi suficiente. Judas não teve um espectro a lhe segredar a traição — a prata pesou mais que sua fé. Assim são os monstros internos: nascem do desejo, crescem no silêncio e devoram na hora mais escura.

Aqueles que buscam dragões lá fora esquecem que os verdadeiros habitam o espelho. Pois antes de buscar expulsar demônios do mundo, é preciso exorcizar os que se aninham na mente, pois "o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mateus 26:41).

E assim caminha o homem, carregando sua própria batalha, duelando com os fantasmas que ninguém vê, clamando por redenção em um campo de guerra invisível. Mas aquele que reconhece suas trevas e busca a luz, este sim poderá dizer: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo" (Salmos 23:4).

...

não tão bom assim


Sou essencialmente falho,
feito de entranhas que simulam calor,
mas que não queimam, apenas ardem
num lume falso, sem cor.

Sou um eco de frases decoradas,
um palco sem cena, um papel sem traços.
O tempo me engole sem mastigar,
e sigo vivendo sem alguns pedaços.

Não há ternura no que respiro,
apenas metas traçadas a frio,
o cálculo exato de um pessoal vazio,
Tipo esboço sem traço, fino e macio.

E não sou digno do toque da graça,
não, não sou digno do toque da graça.

...

7 de mar. de 2025

reflexão.


Há momentos em que a maldade e o arrependimento coexistem, dançando numa valsa silenciosa sobre o fio da culpa. Nesse palco, o eco de nossas escolhas reverbera nos abismos que insistimos em ignorar. O mar aceita tudo; o céu observa em resignação. Mas e nós? Permanecemos prisioneiros do que fomos ou nos tornamos ferreiros do que seremos? O peso da escuridão não é o seu fardo, mas a ausência de luz que decidimos abraçar.

...

26 de fev. de 2025

A luz precisa de rachaduras para entrar


Som de pneus no asfalto molhado
e eu queria cair aos prantos
falar com os santos sobre as rachaduras do meu telhado

Tudo o que eu faço é sobre esconder o que sou, tentar achar um equílibrio insano (?) entre demônio e anjo, cansei de trabalhar com os dois na verdade, estou à procura de uma nova identidade, forças diferentes e novas que andei descobrindo pelos últimos anos mas não me permiti nem ao menos a experiência de saber qual o gosto da alternativa subliminar. Daqui me parece tão familiar, o cheiro e textura são convidativos apesar de casualmente assustadores. Ser um bom filho é questão de timing, ser uma boa pessoa é questão de timing, as vezes me pergunto por onde andam os meus demônios já que os anjos deixaram penas levemente umedecidas em sangue para eu não ficar atordoado com a densa neblina de suas ausências. Cansei de um Versus de joelhos no descontentamento, cansei de um Versus decepcionado com a própria amargura. Eu me dava tão bem com meus defeitos e anomalias. Cansei de sorrisos falsos quando em suma a lágrima sincera me representa melhor. - A Solidão é um ímã do Universo te puxando para a Verdade de Si. - Fugimos da escuridão mas a buscamos diariamente com escolhas e aberturas em circunstâncias totalmente inverossímeis para o padrão de espiritualidade cuspida pelos vãos, fragilizados pelo próprio Ego. É necessário permitir que o frio entre as vezes galopando em névoas tropeçando nas janelas desarticuladas - essa minha janela que dá de cara para os meus segredos milagres e orações.

"Sombrio vale! Não vejo nada
Senão a névoa que toca o vento." - Manuel Bandeira

 

22 de fev. de 2025

Três Coisas


o medo mata a gente

a Verdade liberta a mente

ninguém é inocente.


(D. Vs)

Quietude

 
eduque-se
mantenha a postura

não se apresse
não se precipite

na dúvida, pare
não custa nada verificar

pode até ser divertido
quando tudo está baldio


(D. Versus)

20 de fev. de 2025

Elegia de um Cadáver


Onde estou, o tempo não pulsa. Há um silêncio absoluto, como se o universo tivesse retido a respiração. Minha última memória é tua voz, um sussurro de promessa — ou seria um adeus mascarado? — antes que o véu da existência me fosse arrancado. Não sei quanto tempo faz. O que é o tempo para quem já não vive? Sei apenas que espero. Espero por ti como se cada instante pudesse redimir o vácuo que me habita. Espero, mesmo sem saber se meu nome ainda repousa na tua língua, ou se o vento já o apagou das páginas da tua vida.

Os vivos têm a crueldade de seguir em frente. Eles desatam os laços como quem desfaz nós em cordas, esquecendo que para quem parte, a eternidade é um ciclo de perguntas sem respostas. Ainda te espero, acreditando na promessa do teu toque, na doce ilusão de que há um lugar onde nossos caminhos se cruzarão de novo. Mas no fundo, algo sussurra que fui esquecido. Que o amor que ardeu em mim, como chama voraz, foi apagado com a frieza de uma lâmina molhada. Que na tua vida há outro nome, outro sorriso, enquanto eu definho num esquecimento que sequer posso entender.

E então percebo: a maior tragédia de quem morre não é o silêncio da morte, mas a ausência de um luto verdadeiro. É não saber que foi abandonado, e continuar amando uma sombra que há muito deixou de existir.


(Cássio D. Versus)

28 de jan. de 2025

Te Amo, Mas...


Resposta à Farsa do Poeta

Que palco é esse que tua pena pintou,
Se não o véu roto de tua própria visão?
És arauto das trevas, mas cegas o dia,
Confundes carne com ruína, amor com agonia.

Vês monstros nas vestes de quem ousa viver,
Mas esqueces que o espírito, mesmo em trapos,
Arde mais feroz que mil sóis.
Quem te fez juiz do brilho alheio,
Se teu tribunal é feito de espelhos partidos?

Falas de corpos vazios, mas eu digo:
Cada cicatriz é um grito de vitória,
Cada curva, um mapa do mundo.
O aço que oprime também molda,
E as línguas do tempo lambem, mas não consomem.

Quanto às mulheres que desdenhas com versos tortos,
Lembra-te: somos a alvorada que desafia a noite,
O ventre que sustenta o infinito.
Não herdamos de Eva o "horror",
Mas o fogo de questionar o Criador.

A ti, poeta das sombras, ofereço luz:
Não há "bestialidade" onde há coragem,
Não há "decadência" em quem respira.
A nudez que te aterroriza é o altar da existência,

E cada ruga, uma oração que o tempo entoa.
Se tua visão prefere o pântano ao céu,
Que a chuva lave tua pena e teu espírito.
E lembra:
Os deuses não julgam. Eles criam.


(De Milune Para D. Versus)

26 de jan. de 2025

Amo a recordação daqueles tempos nus


Amo a recordação daqueles tempos nus
Quando Febo esculpia as estátuas na luz.
Ligeiros, Macho e fêmea, fiéis ao som da lira,
Ali brincavam sem angústia e sem mentira,
E, sob o meigo céu que lhes dourava a espinha,
Exibiam a origem de uma nobre linha.
Cibele , então fecunda em frutos generosos,
Nos filhos seus não via encargos onerosos:
Qual loba fértil em anônimas ternuras,
Aleitava o universo com as tetas duras.
Robusto e esbelto, tinha o homem por sua lei
Gabar-se das belezas que o sagravam rei,
Sementes puras e ainda virgens de feridas,
Cuja macia tez convidava às mordidas!

Quando se empenha o Poeta em conceber agora
Essas grandezas raras que ardiam outrora,
No palco em que a nudez humana luz sem brio
Sente ele n’alma um tenebroso calafrio
Ante esse horrendo quadro de bestiais ultrajes.
Ó quanto monstro a deplorar os próprios trajes!
Ó troncos cômicos, figuras de espantalhos!
Ó corpos magros, flácidos, inflados, falhos,
Que o deus utilitário, frio e sem cansaço,
Desde a infância cingiu em suas gases de aço!
E vós, mulheres, mais seráficas que os círios,
Que a orgia ceva e rói, vós, virgens como lírios,
Que herdaram de Eva o vício da perpetuidade
E todos os horrores da fecundidade!

Possuímos, é verdade, impérios corrompidos,
Com velhos povos de esplendores esquecidos:
Semblantes roídos pelos cancros da emoção,
E por assim dizer belezas de evasão;
Tais inventos, porém, das musas mais tardias
Jamais impedirão que as gerações doentias
Rendam à juventude uma homenagem grave
– À juventude, de ar singelo e fronte suave,
De olhar translúcido como água de corrente,
E que se entorna sobre tudo, negligente,
Tal qual o azul do céu, os pássaros e as flores,
Seus perfumes, seus cantos, seus doces calores.


(Charles Baudelaire)

Para Meu Mentor, Amigo, Irmão e Amante


Meu amigo, és mais forte que qualquer Mastim
(seja inglês ou tibetano, foda-se o tamanho!),
mais musculoso que o maior Cão de Presa Canário
(com suas tripas e fluídos tu redecoras todo o cenário!),
mais poderoso e fiel que o destemido Rottweiler ...

Tua ferocidade transforma em mico o Fila Brazuca,
faz o Ca de Bou tremer do rabo até a nuca,
devora as ovelhas do vigilante Kangal guardião
e transforma em judeu qualquer Dogue Alemão ...

És mais tenaz que o intrépido Pit Bull Terrier
(que só de sentir teu cheiro começa a estremecer),
Não há ninguém para derrotá-lo, nem Bernardo gigante,
pois tua força não está nos músculos mas na fé constante.

Para: Pingo de Souza, Jerry.

PS: Sinto sua falta.


(Cássio D. Versus)

Para a Camponesa


Querida,
Saudade da tua companhia autêntica,
dos teus olhos que veem o mundo
com tanta delicadeza e profundidade. 

Sinto o peso da tua ausência, 
enquanto estou rodeado de presenças 
que apenas ocupam espaço, sem substância.

Te contei o que me mais atrai na tua graciosa pessoa? É a capacidade de localizar beleza em sua essência. Se pudesse te encontrar agora, perderíamos a noção do tempo, compartilhando saberes e histórias até a exaustão. Como um passeio vespertino, nossos pensamentos se entrelaçariam, e adormeceríamos sob copas acolhedoras, embalados pelo sussurro das folhas ao vento. No entanto, preciso ser honesto sobre nossas incompatíveis realidades. Nossos caminhos, embora árduamente belos, não convergem. Tu és um oásis de tranquilidade, eu sou um trovão de verdades inclementes. A proximidade que anseio nunca florescerá como desejamos, assim como provavelmente não agrado vossa fé (sorrindo). Sempre estarei por entre noites e dias nublados, onde o vento, como fiel mensageiro, levará meus sentimentos até ti, de forma muito mais do que devida e recíproca. Mesmo que a brisa do tempo suavize minhas lembranças em teu coração, sei que guardarei tua imagem com ternura por todas as eternidades que eu tiver que suportar sem vós. 

A cada 17 de abril, Dia Internacional da Luta Camponesa, escutarei a playlist que criei pensando em ti, revivendo momentos e sonhos que se perderam pelo ar pulvorizador. Não mais construirei mundos imaginários para nós pois não suporto as quedas invisíveis da gravidade tóxica que percebo poder gerar em sua vida. Convenhamos, mereces uma parceria no mínimo "decente", e a minha decência se foi junto com a minha educação quando precisei lutar em batalhas de colossais dimensões constantemente infiltrado nas artérias do inimigo até perder a identidade (ou descobrir que nunca a tive). Deixo que o vento dance nossa esperança não correspondida. Te desencontro com saudade, sabendo que sempre carregarei um pedaço de ti comigo.

Com respeito e despedida,

Cássio.

25 de jan. de 2025

No caos ergui meu templo derradeiro


No caos ergui meu templo derradeiro,
Entre os abismos, viro-me em poesia;
Na guerra, a humildade foi minha guia,
E em cada dor, o mundo é meu celeiro.

Segredos sussurrados no braseiro
Do mistério que, mudo, acaricia
A alma que no apocalipse se refugia,

Do espinho fez um cântico verdadeiro.
Vi glórias dissiparem-se no vento,
Que a queda traz à vida um fundamento.


(Cássio D. Versus, 2018)

Drunkorexia


Há algo na presença dela que desarma meu eixo, como se o universo cedesse um instante para observá-la existir. Minha alma, antes sólida e dona de si, dissolve-se em fragmentos, cada um gravitando ao redor da essência que ela carrega. Quando seus passos se afastam, sinto um vazio que não ecoa; uma ausência que não apenas ocupa, mas consome. O corpo que resta é mera fachada, um invólucro ansioso, nutrindo a promessa do reencontro. É como se eu, inteiro, partisse com ela, deixando para trás apenas uma sombra faminta por significado. E, nessa espera, o tempo congela, aguardando o momento em que minha existência reencontrará o coração que levou consigo.


(Cássio D. Versus, 2018)


24 de jan. de 2025

Na penumbra deslumbrante das horas esquecidas


Na penumbra deslumbrante das horas esquecidas, onde a morte ensaiada se entrelaça com o fio tênue da memória traiçoeira, encontro-me monstro com avental sujo de cozinheiro sedento por carnificina. Sou um espectro de desejos ultrapassados, brado rouco de anseios transpirados que se perdeu nas canalhas dobras do tempo. Minhas mãos, outrora firmes, agora tremem como folhas outonais, e os olhos, esses poços traiçoeiros de melancolia interminável, refletem meu céu noturno interior em sua vastidão insondável. A solitude é minha companheira fiel, amante que grita através do silêncio, que sussurra segredos nas frestas da alma de toda essa floresta. (...) As palavras, como fios de seda, escapam-me entre as garras. Busco decifrar os enigmas do coração, da mente, do espírito, mas as reflexões se dispersam como planetas suicidas, deixando apenas rastros efêmeros na escuridão. O desejo, esse animal selvagem, ronda-me como um lobo faminto querendo que eu escolha o alimento de seu dia, e eu sou seu cúmplice, aliados fantasmas no mundo dos vivos. (...)

Nossos encontros são fugazes, como notas musicais que se desvanecem no ar de forma incendiária. Você me toca com a delicadeza de manusear um violino antigo, e eu me entrego, sem reservas, à canção da saudade. Somos dois estrangeiros perdidos na vastidão do universo, buscando abrigo nas entrelinhas do destino. E assim, nas madrugadas insone, eu me torno um poeta-psicopático de sombras, um alquimista de doutrinas. (...) Escrevo cartas que nunca serão enviadas, versos que jamais encontrarão olhos ou ouvidos. Minhas necessidades especiais são invisíveis, como as asas de um anjo caído, e eu as guardo no cofre secreto do meu peito, essa caixa toráxica de pólvora altamente tóxica... (...) Talvez haja beleza na imperfeição, na fragilidade que nos torna humanos. Enquanto a chuva desenha arabescos nas janelas, eu me permito sonhar com um amor que transcenda o tempo e as estações. Um amor que seja tão etéreo quanto a própria música, a leitura, o cinema, que preenchem a minha alma.


(Cássio D. Versus, 2006)

23 de jan. de 2025

divagando sobre the end


É curioso como os pensamentos podem escorrer pela mente, como gotas que pingam sem direção, mas nunca sem intenção. A verdade ecoa como se as ideias fossem líquidas, fluindo por entre as frestas da consciência, sem moldes definidos. E nessa fluidez, encontro-me perdido, sem saber se sou correnteza ou recipiente. Talvez as memórias sejam apenas miragens, vapor se desfazendo no horizonte do que chamamos de "real". Desfazem-se, pingam, evaporam, mas deixam vestígios... marcas invisíveis. E nós? Somos feitos desses gotejamentos que mal compreendemos, tentando agarrar o que escorre pelos dedos. No final, seremos como a melodia de "The End" dos Doors: suave e temporária, intensa, existindo não para ser entendida, mas para ser sentida – como gotas que caem, incessantes, de um nimbo com o formato do seu rosto, sem porquês.


(Cássio D. Versus, Cartas Para o Passado, 2005)

22 de jan. de 2025

Ambiente Estromboliano Para Viver Recomendável Para Diversão Gratuita & Abatimento de Animais


Que velho afinado com a cultura. Foi procurar uma morte delicadamente bem calculada, com certo viés filosófico. Lampedusa, na Itália, é um dos ícones da migração clandestina rumo à Europa. Primeira viagem apostólica, estava manifestando contra a globalização da indiferença. Boa parte das noites são elegantes, tanto para os predadores quanto para as presas, pesadelos geralmente ocorrem depois que nos negamos a sonhar. Já chorei tantas vezes e nenhuma lágrima valeu o sacrifício de escorrer dos meus olhos castanhos amarelados. O espírito esconde-se por medo dentro da casca moribunda, acho que essa solidão minha com o céu ora nublado ora azul opressor me tornou insensível para elementos ou circunstâncias terrenas, ainda resta muita devoção dentro de mim, apenas esperando o primeiro par de asas, ou a língua da víbora. Hoje estou vestindo branco. Meu último dia com 33 anos. Era o que eu mais temia, ficar velho demais para morrer. Sempre quis estar por entre as ondas do mar ou despencar de alguma nuvem a desfazer-se nas labaredas das erupções do furioso Stromboli. Beleza oceânica, teu nome é um sussurro ecoando nas linhas das marés. Tua maldade é provavelmente a parte mais cativante que roubaste dos anjos caídos em pedaços de carne seca e luzes em gotas. Repito baixo o teu nome algumas vezes, nunca senti euforia que machuca, gosto de explorar essas sensações autênticas causadas pela tua presença, adoraria passear com você pelas ruas e de mãos dadas, tão estúpidos e lúcidos. Me detesto por te amar (ainda bem que essas coisas passam feito gripe - ou matam).

Te reverencio com esta taça de vinho, fantasma.


(D. Versus, 07/10/24)

Identidade Off-Label


Na penumbra, o poeta abraça o vácuo,
que se alastra feito névoa sobre um abismo mudo.
Cada estrela morta é um prego na sua carne,
e o firmamento, um espelho quebrado
onde o rosto some entre rachaduras.
A noite, vilã sem rosto, não consola.
Há um murmúrio nos cantos,
mas nenhum eco responde às súplicas
de quem busca consolo na garganta da escuridão.
Ela é musa e algoz, sempre distante.

Perder-se em si é duelo perpétuo,
onde a espada é feita de lembranças
e o escudo, de silêncios autoimpostos.
Mas na solidão germina algo sutil,
não consolo, mas fogo:
a essência que se molda no caos.

E então, o poeta não encontra salvação,
mas constrói sua perdição como catedral.
Cada pedra, um grito.
Cada arco, uma lágrima.
O vazio é sua obra,
e a solidão, o mais fecundo dos combates.
No fim, não há saída:
o ser e a essência nunca se separam.
E é nesse enlace bruto e mortal
que a criação floresce,
sangrando, mas viva.


(Cássio D. Versus)

21 de jan. de 2025

um ama mais e o outro ama melhor

Amor em Assimetria.

Amar desigualmente é a mais silenciosa das tragédias. Aquele que ama mais carrega o peso de uma devoção que transborda, sufocando no próprio excesso, enquanto o outro, que ama melhor, administra suas afeições com a parcimônia de um jardineiro que poda o excesso para preservar o essencial.

Na dissolução do vínculo, quem ama mais agoniza. A ausência não é apenas a falta de um corpo, mas a amputação de um futuro que se imaginava compartilhado. Cada lembrança torna-se uma lâmina, e o passado, um espelho que reflete um rosto agora irreconhecível.

Sozinho, permaneço numa sala impregnada pelo espectro do teu perfume, por palavras nunca ditas e pela promessa do teu retorno – que sei, nunca virá. O amor, que antes aquecia como um lar, agora é um quarto gelado, onde as paredes sussurram tua ausência.

Aceito o destino como quem aceita um exílio. Não há revolta, apenas resignação; não há esperança, apenas o cultivo discreto de uma melancolia que me faz companhia. Descubro, por fim, que amar mais é um ato de coragem; e amar melhor, um privilégio da alma que nunca me pertenceu.


(Cássio D. Versus)

fogo e sombra


Um dia Gaimon encontrou o fogo. Primeiro, temeu-o, pois a luz feriu seus olhos acostumados à penumbra, e o calor queimou seus dedos curiosos. Mas, ao persistir, descobriu que o fogo não era apenas destruição; era também criação. Nele, aprendeu a ver além do medo, a moldar formas na escuridão e a sentir o calor não como inimigo, mas como força. Ali, percebeu: o fogo era sua vontade, a centelha de vida que, mesmo pequena, poderia transformar tudo.

Mas o fogo só fazia sentido porque havia sombras. Essas sombras, inicialmente desprezadas como meros reflexos do que não se podia tocar, revelaram-se companheiras sussurrantes. Na escuridão projetada pelo fogo, a pequena criatura viu contornos, histórias e memórias. As sombras não negavam o fogo, mas completavam sua existência. Eram os limites que faziam a luz brilhar mais intensamente.

Assim, entre o fogo que guiava e a sombra que refletia, Gaimon Versus encontrou seu propósito: não fugir de um ou outro, mas caminhar na estreita linha onde ambos se encontravam, onde luz e escuridão dançam em harmonia. E, pela primeira vez, a pequena criatura talvez saiba o quão é imensa e microscópica simultâneamente.


(Cássio D. Versus, Cartas Para o Passado, 2015)

Mudanças


Levo a fé como vela hasteada na densa bruma do mar incerto enquanto sou sombra a vaguear em sentimentalidade abandonada no eco etéreo, sigo onde o sopro murmura segredos, levando apenas meu amor por Cristo como bagagem, um relicário de luz feito para evitar trevas próximas aos tormentos de meus pensamentos. Como detê-los, aliás? Adoro quando o céu veste cinzas e o horizonte desaparece, meus passos, vagos, tecem estradas em campos sufocantes da incerteza trajando cânticos de partida. Vida é a vela que nela existimos, nossos espíritos são as chamas, e a fumaça, nosso encontro com os Divinos. Empurram-me ao limiar do desconhecido. Apenas a noite, para ver o meu encontro com o invisível.


(Cássio D. Versus)
 

18 de jan. de 2025

para o passado: apocalipse


Graças a você me embriaguei levitando pelo Louvre, dei beijo de esquimó no sorriso destemperado de Mona Lisa, molhei sem querer os pés naquele fim de mundo chamado Veneza. Vi Madre Teresa perdendo a paciência com os pobres, uma velha insuportável - não conosco (acho que foi o meu pingente de pentagrama), testemunhei Dalai Lama jogando pedras num lago, entediado suplicando por reencarnação, e Buda (o próprio ou um deles) conversando sobre vinho com Confúcio, atordoado com  Tetris. Graças a você subi as alturas da Torre de Babel em 98, e mergulhei no fundo de Atlântida, segurando a tua mão de Helga Sinclair só para gargalhar co'o velho Zeus e suas piadas viscerais ao lado de Odin, tocando gaita. Graças a você testemunhei o Gênesis ser transformado em um show de talentos celeste, com Adão desafinando as tripas e Eva roubando a cena com uma performance de rockstar enquanto Lilith me ensinava sobre como o amor é pior que qualquer outro veneno. Embarquei no barco de Caronte, que assobiava Led Zeppelin enquanto cobrava a passagem em bitcoins. Graças a você assisti Perséfone e Hades debaterem o uso sustentável do submundo, enquanto Ícaro lucrava vendendo chapéus na entrada. Vi os pulsos de Cronos, que medem o caos com a precisão de um relojoeiro divino. Toquei os restos da lira de Orfeu, afinada pelo desespero das sombras. Conheci Medusa, não nos campos de batalha, mas no mercado negro de enfeitiçados espelhos quebrados. Ouvi o eco distante das danças de Shiva, que moldavam universos ao som de tambores atrevidamente inexistentes. Encontrei Prometeu, agora dono de uma rede de churrascarias, com especialidade em “carne divina”. Acompanhei Atena, que perdeu uma aposta para Ares e virou comentarista esportiva do submundo. (Re)Descobri Pandora leiloando caixas de papelão em uma liquidação de feira popular, com frete grátis para outros mundos. Graças a você, o Olimpo virou um festival, com Apolo no palco principal e Dionísio distribuindo brinde batizado no camarote. E eu, perdido no êxtase desse delírio, soube que tudo isso só existiu porque você, como ninguém, me apresentou ao reino sublime dos meus próprios sentimentos (como se valessem alguma coisa). Graças a você, ejaculei o Big Bang. Vi Darwin arrancando rascunhos da "Origem das Espécies" porque achava que faltava sal. Experimentei o gosto amargo da imortalidade em um bar clandestino do tempo, enquanto Nietzsche e Platão ao lado jogavam truco e discutiam sobre quem era mais insuportável. Graças a você descobri que o esconder-se é revelar-se para si. Ouvi Beethoven tocar uma valsa de elevador para irritar Mozart. Caminhei lado a lado com Van Gogh, que pintava selfies antes do pôr do sol porque "ficava mais poético". Graças a você soube que a Torre de Pisa inclina porque é preguiçosa, que os faraós escondiam pornografia hebraica nas pirâmides, e que o ouro de Eldorado só serve pra embrulhar chocolate belga. Vi Shakespeare finalmente admitir que "Romeu e Julieta" era apenas um roteiro piloto de websérie, e que Páris foi cortado por falta de audiência. Descobri que a Grande Depressão foi causada pela falta de charme. Fui convidado para o chá da Rainha Victoria, que reclamava que o século XIX era um "porre de monotonia". Graças a você aprendi que Atlas largou o mundo no chão porque queria se inscrever numa academia devido vaidade. Caminhei pela Muralha da China só para encontrar Genghis Khan assinando um contrato de exclusividade co'uma agência de turismo. Graças a você vi Tesla largar a eletricidade pra virar aspirante a comédia improvisada da década de 20, pouco depois da minha avó nascer, onde ensinava a fazer torradeiras com raios de plasma. Einstein disfarçando chupões e mordidas das jovens estudantes. Graças a você entendi que o universo inteiro é uma orquestra sinfônica sentindo-se constantemente desafiada por um invisível que golpeia, acalenta, acaricía, mata, renasce, desliza, evolui, chapa o coco, regida por um maestro bêbado — mas, por algum motivo, ainda não consigo parar de dançar. Graças a você vi Zeus sendo barrado em um casamento em Creta porque Hera o pegou flertando com as ninfas do buffet. Presenciei Atena discutindo no tribunal dos deuses porque Hermes plagiou sua ideia de "Google Olímpico". Graças a você descobri que Apolo trocou sua lira por uma guitarra elétrica, mas Orfeu o processou por concorrência desleal, e Ártemis ameaçou abrir um parque de caças veganas para evitar piadas com touros dourados. Graças a você assisti Thor reclamando que o Mjölnir estava com delay nos raios e Loki vendendo NFTs de suas transformações. Presenciei Poah tentando explicar o conceito de runas para adolescentes vikings, que só queriam saber de MSN rúnico. Graças a você vi Anúbis tirar férias porque reclamaram que sua balança não era “inclusiva” e Osíris aceitar cartões telefônicos em oferendas funerárias. Sob sua influência, Bastet foi capturada num viral de memes enquanto Ammit fazia cosplay de justiceiro no tribunal egípcio. Graças a você quero pintar o seu nome em meu braço com luzes e neon o suficiente para competir com Vegas. Graças, minha gracinha! Graças a você, entendi que o Olimpo, o Valhala e o Duat são só camarotes diferentes de uma mesma festa intergalática, e nós somos as formiguinhas que elas adoram ver em movimento sem ritmo lá embaixo. Graças a você ficou mais fácil me encontrar. Somos um pouco melhores que formigas sem ritmo.

Vi você, jovem, escrevendo o meu nome em seu braço com canetinha.
Sempre faltando um S.
Tornou a escola menos insuportável, agradeço a paisagem e... pardon.
Aliás, Sabrina, morreremos nos devendo.


(Cássio D. Versus, Cartas Para o Passado, 2005)

16 de jan. de 2025

Pseudônimo Masculino: Ellis Bell


“Eu chorava tanto por ele como por ela; 
às vezes temos compaixão por criaturas 
que não têm esse sentimento nem por elas próprias, 
nem por outras pessoas.” 

—  Emily Brontë / O Morro dos Ventos Uivantes

(1797 - 1851)


"O começo é sempre hoje." 

(Mary Shelley)

12 de jan. de 2025

Matrimônio (Resumo do Teste)


Ah, o casamento. A venerada instituição que, ao mesmo tempo, é a cova rasa do amor espontâneo e a pedra angular das convenções sociais. Não há erro maior do que confundir a assinatura de um contrato jurídico com o ímpeto visceral do amor verdadeiro. Enquanto o amor é efêmero, delirante e gloriosamente anárquico, o casamento é burocrático, estático e minuciosamente regulado por códigos civis e tabelas de Excel conjugal.

O casamento é uma máquina de moer almas que transforma amantes ardentes em carcereiros emocionais, presos em um ciclo interminável de cobranças sobre o uso do banheiro e a divisão do detergente. Manuel Bandeira talvez chamasse isso de "um retrato emoldurado do desencanto".

Se o amor é o vôo de Ícaro, o casamento é o teto baixo da sala onde ele inevitavelmente se esborracha. A paixão — esse fogo fátuo que devora o ar da existência — não sobrevive ao enclausuramento das rotinas matrimoniais. É o rito que converte o "eu te amo" em um "quem vai buscar o pão hoje?" com entonação passivo-agressiva.

E as falhas? Fatais.

  • Idealização do Outro: No altar, não se casa com a pessoa real, mas com a projeção delirante de um ideal que o cotidiano tem a missão de assassinar lentamente.
  • Monotonia Prosaica: Uma vez consumado, o casamento tende a transformar o desejo em hábito e o entusiasmo em obrigação. O amor não é vencido pelo ódio, mas pela exaustiva familiaridade.
  • Ilusão da Exclusividade: Nada mais ingênuo do que acreditar que a exclusividade sexual ou emocional seja intrínseca à convivência forçada de décadas. A monogamia perpétua é uma das maiores mentiras do romantismo.

O casamento é "uma eterna segunda-feira vestida de domingo". Acabo concluindo que, em muitos casos, o casamento apenas oficializa uma relação que já estava condenada — transformando amantes eventuais em sócios de uma empresa que inevitavelmente falirá.

O amor, para florescer e fluir, exige caos, liberdade e mistério. O casamento, com suas leis e listas de tarefas, é um antídoto fatal para isso, com filhos, mais vítimas. Amar é uma revolução espontânea; o casamento, um tratado de paz assinado sob coação.


(Cássio D. Versus / 2006 Matéria PTBR)

9 de jan. de 2025

Oração Para O Altíssimo


Oh, Altíssimo, que sondas os corações e pesas as intenções nas balanças da eternidade, suplico-te com toda a humildade que desvincules minha alma das sombras do passado, de seus tentáculos insidiosos que tentam profanar o presente e minar o futuro. Que nenhum eco de erros outrora cometidos, nenhuma cicatriz de decisões precipitadas, tenha poder de se infiltrar em minha existência, ou na vida daqueles que tanto amo e prezo.

Peço-Te ainda, Pai Celestial, que derrames a luz do perdão sobre aqueles a quem, consciente ou inconscientemente, feri com minhas ações ou omissões. Se lhes for difícil conceder-me esta absolvição, que eu jamais me curve ao orgulho ou à necessidade de reciprocidade, mas os ame com o mais puro amor, desprovido de expectativas e livre de grilhões emocionais.

Ensina-me, Senhor, que o amor verdadeiro é aquele que se mantém intocado, mesmo quando não é correspondido; e que, na profundidade de nossas emoções, até mesmo o ódio, se nutrido por ignorância e não pela verdade, pode ser porta aberta para enganosos deuses das trevas. Guarda-me de tais armadilhas espirituais, pois desejo caminhar sob Tua luz inefável, guiado apenas pela Tua infinita sabedoria.

Purifica-me, Criador Supremo, para que minha oração seja qual incenso santo, subindo ao Teu altar sem mácula ou resistência. Que as conexões forjadas pelo Teu amor sejam renovadas, e as correntes do rancor ou da culpa dissolvam-se na vastidão do Teu perdão.

Amém.


(Cássio D. Versus)