14 de dez. de 2011

Pessoa Não


para
deixar ir
é preciso
partir também.

não há além
para quem
não quer nada.

camada.

e qual é a estrada
pro filho perdido
chamado ninguém?


(Cássio D. Versus)

12 de dez. de 2011

Inscrição na Areia


O meu amor não tem

importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!

Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?

O meu amor não tem
importância nenhuma.


(Cecília Meireles)

28 de nov. de 2011

Canção


Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.


(Cecília Meireles)

Motivo


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.


(Cecília Meireles)

23 de nov. de 2011

Yara


Noite clara,

e tua nudez
me declara

Yara,

minha imortal
toada mortal...


(Cássio D. Versus)

21 de nov. de 2011


No baile em que dançam todos
Alguém fica sem dançar.
Melhor é não ir ao baile
Do que estar lá sem lá estar.


(Fernando Pessoa, 1934)

10 de nov. de 2011

Sofredora


Cobre-lhe a fria palidez do rosto
O sendal da tristeza que a desola;
Chora - o orvalho do pranto lhe perola
As faces maceradas de desgosto.

Quando o rosário de seu pranto rola,
Das brancas rosas do seu triste rosto
Que rolam murchas como um sol já posto
Um perfume de lágrimas se evola.

Tenta às vezes, porém, nervosa e louca
Esquecer por momento a mágoa intensa
Arrancando um sorriso à flor da boca.

Mas volta logo um negro desconforto,
Bela na Dor, sublime na Descrença.
Como Jesus a soluçar no Horto!



(Augusto dos Anjos)

A Árvore da Serra


— As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pos almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...

— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
«Não mate a árvore, pai, para que eu viva!»
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!


(Augusto dos Anjos)

9 de nov. de 2011

(...)


"Senhor Breuer, por que não tenta aprender o que
tenho a ensinar em vez de provar quanta coisa não sei?"


(Quando Nietzsche Chorou, Irvin D. Yalom)

8 de nov. de 2011

Poema VI


Te recordo como eras no último outono.
Eras a boina cinza e o coração em calma.
Em teus olhos pelejavam as chamas do crepúsculo.
E as folhas caiam na água de tua alma.

Apegada a meus braços como uma trepadeira,
as folhas recolhiam tua voz lenta e em calma.
Figueira de estupor em que minha sede ardia.
Doce jacinto azul torcido sobre minha alma.

Sinto viajar teus olhos e é distante o outono:
boina cinza, voz de pássaro e coração de casa
fazia onde emigravam meus profundos anseios
e caiam meus beijos alegres como brasas.

Céu desde um navio. Campo desde os cerros.
Tua recordação é de luz, de fumaça, de tanque em calma!
Mais além de teus olhos ardiam os crepúsculos.
Folhas secas de outono giravam em tua alma.


(Pablo Neruda, Vinte poemas de amor e uma canção desesperada)

(...)


"O medo cega, disse a rapariga de óculos escuros,
São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegamos,
o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos,"


(José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira)

7 de nov. de 2011

Noite Morta


Noite morta.
Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.

Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.

No entanto há seguramente por ela uma procissão
de sombras.
Sombras de todos os que passaram.
Os que ainda vivem e os que já morreram.

O córrego chora.
A voz da noite...

(Não desta noite, mas de outra maior.)


(Manuel Bandeira, Petrópolis - 1921)

2 de nov. de 2011

Ingênuo Enleio


Ingênuo enleio de surpresa,
Sutil afago em meus sentidos,
Foi para mim tua beleza,
A tua voz nos meus ouvidos.

Ao pé de ti, do mal antigo
Meu triste ser convalesceu.
Então me fiz teu grande amigo,
E teu afeto se me deu.

Mas o teu corpo tinha a graça
Das aves... Musical adejo...
Vela no mar que freme e passa...
E assim nasceu o meu desejo.

Depois, momento por momento,
Eu conheci teu coração.
E se mudou meu sentimento
Em doce e grave adoração.


(Manuel Bandeira)

Desencanto


Eu faço versos como quem chora
De desalento, de desencanto
Fecha meu livro se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias amargo e quente
Cai gota à gota do coração.

E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre
Deixando um acre sabor na boca

Eu faço versos como quem morre.


(Manuel Bandeira)

31 de out. de 2011

Minha Revolta


Perdoai-me Senhor!
Se amanhã
Ao invés de um lápis,
Eu empunhar uma arma.

Perdoai-me Senhor!
Se amanhã
Ao invés de minh'alma,
Eu apertar um gatilho.

Perdoai-me Senhor!
Se amanhã
Ao invés de versos,
Eu compor violência.

Perdoai-me Senhor!
Se amanhã
Ao invés de papel,
Eu rabiscar corpos.

Perdoai-me Senhor!
Se amanhã
Ao invés de tinta,
Eu derramar sangue.

Perdoai-me Senhor!
Se amanhã
Ao invés de poeta,
Eu me tornar um sanguinário.

Perdoai-me Senhor!
Se amanhã
A minha revolta por justiça,
Não for apenas poema.


(Gênes Francelino de Alencar)

26 de out. de 2011

Liberta-te


me deixe sair
cavalo fraco

são dedos amenos
assim de terrenos
CANELA E CRAVO

me deixe sair
agora,

esconder a espora,

do corpo dono
que aqui não mais mora.


(Cássio D. Versus)

25 de out. de 2011

(...)


"Não há no mundo nada que em sentido absoluto nos pertença,"


(José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira)


19 de out. de 2011

A uma freira que satirizando a delgada fisionomia do poeta lhe chamou "Pica-Flor".


Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber,
Se no nome que me dais,
Meteis a flor que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor.


(Gregório de Matos)

18 de out. de 2011

(...)


Não corras atrás do
passado,
Não busques o futuro,
O passado passou.
O futuro ainda não
chegou.
Vê, claramente, diante
de ti o Agora.
Quando o tiveres
encontrado
Viverás
o tranquilo e
impertubável estado
mental.

"a jangada é um meio para se atravessar, não para se guardar."


- Pensamento Budista

Espumas Flutuantes


SUB TEGMINE FAGI

(...)

A lua — traz um raio para os mares...
A abelha — traz o mel... um treno aos lares
Traz a rola a carpir...
Também deixa o poeta a selva escura
E traz alguma estrofe, que fulgura,
Pra legar ao porvir!...

(...)

- Castro Alves, Boa Vista - 1867

Poesia


"Mas a poesia nunca foi tão boa
quanto na época em que tinha que ser feita só com três palavras."


(Paulo Leminski, Gozo Fabuloso)

4 de out. de 2011

PARE DE PENSAR




PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR
PARE DE PENSAR

- - - - - - - - - - - - -

\/\/\/\/\/\/\/\/\/

debaixo do tronco

amargor do anjo bronco

- toda raíz está para estar,

ele dizia,

o mundo acontece

PARE DE PENSAR


(Cássio D. Versus)

5 de set. de 2011

Os Materiais


Eu quis a palavra reta
feito faca.

Eu fiz do verso o corte brando
do metal.

O lento sal dos anos
não lhe roube o fio.

O inimigo não possa
empunhá-lo durante a luta.

Se o carrasco, algum dia,
levar aos lábios meu poema,

o vidro claro do verso
lhe corte a boca.

E a palavra não se renda
à tortura.

E quando eu disser: pedra,
não se entenda pão.

Quando eu disser: noite,
se encontre nela todo poder de treva.

Quando eu disser: eis o inimigo,
mate-o antes do amanhecer.


(Do livro "Poemas do Povo da Noite", de Pedro Tierra)

Pássaro


Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.


Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.


Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.

Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.



(Cecília Meireles)

Lua Adversa


Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...


(Cecília Meireles)

Canção do Amor-Perfeito


Eu vi o raio de sol
beijar o outono.
Eu vi na mão dos adeuses
o anel de ouro.
Não quero dizer o dia.
Não posso dizer o dono.

Eu vi bandeiras abertas
sobre o mar largo
e ouvi cantar as sereias.
Longe, num barco,
deixei meus olhos alegres,
trouxe meu sorriso amargo.

Bem no regaço da lua,
já não padeço.
Ai, seja como quiseres,
Amor-Perfeito,
gostaria que ficasses,
mas, se fores, não te esqueço.


(Cecília Meireles)

The Big Swallow



De James Williamson. 1901. Com Sam Dalton.

2 de set. de 2011

Epopéia


Céu.
Que céu?
O céu é quimérico.
Nuvens não.
Ah, com certeza as nuvens não!
Elas passeiam, dançam, choram
ora de contentamento
ora de desalento
ora de fereza
certas vezes
são tão generosas
que emascaram o sol
tornando assim
todo o horizonte conspícuo...

Nuvens são tão verdade.


(Cássio D. Versus)

22 de ago. de 2011

O Solitário


Detesto seguir alguém assim como detesto conduzir.
Obedecer? Não! E governar, nunca!
Quem não se mete medo não consegue metê-lo a ninguém,
E só aquele que o inspira pode comandar.
Já detesto guiar-me a mim próprio!
Gosto, como os animais das florestas e dos mares,
De me perder durante um grande pedaço,
Acocorar-me a sonhar num deserto encantador,
E forçar-me a regressar de longe aos meus penates,
Atrair-me a mim próprio... para mim.


(Friedrich Nietzsche, "A Gaia Ciência"
)

8 de ago. de 2011

Frio Recanto


"Ah, amor meu vagando por outros prados... 
Encontrei-te ontem, bem pressentiu, era um eclipse lunar... 
A sombra da escuridão infinita onde corações pulsam sem sangrar.
O reflexo da tua face pálida. 
Outonos se passaram e as folhas secas quebraram os meus pés nus 
vagando entre ventos, nosso lar aos ares. 
E os cacos de cristal que ferroaram juntos 
fizeram morrer uma libélula sagrada sem a tua presença,.. 
(...) a desmaiar mais e profundamente em um sono ininterrupto. 
Sei que tu em teus bravos momentos de encontro 
via as névoas que emanavam dos cálices de vinho que estavam à tua espera. 
Mas, ah! Eles me tragaram a dormência 
e padeço agora segurando a rosa que me deste, 
a qual os espinhos queimaram minhas mãos. 
Recolha-te ao frio recanto que me concebeu o insólito em chamas. 
Una teu fio de prata ao meu, destino outros não conseguiriam suportar. 
E as gotas d’água percorrerão nossos corpos unos. 
Em cinzas, romperiam flores celestes em meu peito vazio.

Agonizando, beijos!


Para Cássio, ma petit."

Liessa D. Nora (Março de 2008).

4 de ago. de 2011

Gosto de ti calada (Poema 15)


Gosto de ti calada porque estás como ausente,
e me ouves de longe, e esta voz não te toca.
Parece que os teus olhos foram de ti voando
e parece que um beijo fechou a tua boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
tu emerge das coisas, cheia da alma minha.
Borboleta de sonho, pareces-te com a minha alma,
e pareces-te com a palavra melancolia.

Gosto de ti calada e estás como distante.
E estás como queixando-te, borboleta em arrulho.
E ouves-me de longe, e esta voz não te alcança:
vais deixar que eu me cale com o silêncio teu.

Vais deixar que eu te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
Tu és igual à noite, calada e constelada.
O teu silêncio é de estrela, tão longínquo e tão simples.

Gosto de ti calada porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se houvesses morrido.
Uma palavra então, um teu sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre porque não é verdade.



(Pablo Neruda)

3 de ago. de 2011

Requerer


"Mãe-Natureza!,
(da minha natureza, não das outras)
livrai-me do inacabável trajeto de rudeza
em não me encontrar integrado nas cousas."



(Cássio D. Versus)

1 de ago. de 2011

Apostila


Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Mílton...
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!
Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos -
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos -
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.
Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um acto indefinido nem factício...
Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir...
Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!
(Passageira que viajas tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto?
Que foi isto a vida?)


Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E estremece, no mesmo movimento que o da terra,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.


(Álvaro de Campos)

Lisbon Revisited


Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafisica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) ­
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul ­ o mesmo da minha infância ­,
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!

Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!


(Fernando Pessoa)

28 de jul. de 2011

A Dança


Não te amo como se fosses uma rosa ou um topázio
Ou a flecha de cravos, que o fogo lança.
Amo-te como certas coisas escuras devem ser amadas,
Em segredo, entre a sombra e a alma.
Amo-te como a planta que não floresce e carrega,
Escondida dentro de si, a luz de todas as flores.
E, graças ao teu amor, escura no meu corpo
Vive a densa fragrância que cresce da terra.
Amo-te sem saber como ou quando ou de onde.
Amo-te tal como és, sem complexos nem orgulhos.
Amo-te assim porque não sei outro caminho além deste
Onde não existo eu nem tu.
Tão perto que a tua mão no meu peito é a minha mão.
Tão perto que, quando fechas os olhos, adormeço.


(Pablo Neruda)

22 de jul. de 2011

Filtro


"Caso desejeis alcançar as alegrias do Nirvana,

deveis afastar as estéreis discussões teóricas."


(O Pensamento Vivo de Buda)

17 de jun. de 2011

Liberdade


Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...


(Fernando Pessoa)

Anira Olada


saudade daquel' ostensão
me era pouca a intrepidez
queria mais tua breve hora
que no minuto a vida fez

e eram voltas pelo quarto
corpos quase em vão capricho
a falta abrasa um sonho harto
fico gente o que era bicho

noites buscam graça ao alarde
sou-te assim me venho e penso
dá-me um beijo o quão covarde
nos era além o amor imenso (?)


(Cássio D. Versus)

16 de jun. de 2011

Isto


Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço,
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê.


(Fernando Pessoa)

Natural


"Teu monstro se chama
Chacal Ferrabrás..."

Sou teu por impulsão,
e a saudade que sinto
me cai como abstersão

GENTILEZA NÃO!


(Cássio D. Versus)

15 de jun. de 2011

Chove. Que fiz eu da vida?


Chove. Que fiz eu da vida?
Fiz o que ela fez de mim...
De pensada, mal vivida...
Triste de quem é assim!
Numa angústia sem remédio
Tenho febre na alma, e, ao ser,
Tenho saudade, entre o tédio,
Só do que nunca quis ter...
Quem eu pudera ter sido,
Que é dele? Entre ódios pequenos
De mim, estou de mim partido.
Se ao menos chovesse menos!


(Fernando Pessoa, 23/10/1931)

4 de jun. de 2011

(...)


"Batizei-me em água santa
por véu de céus concedida,
(oculto clã)
o que me era doce
esvai-se em queda interrompida.
Peculiar crueldade consumindo a infância,
guerra explícita.
Sangrando para amarfanhar
ilícitos amanhãs."


(Cássio D. Versus, 2006)

30 de mai. de 2011

Vênus


a vida drena
e você tão plena
me enche de amor

assim reaprendo
longe do limo
nem tudo é torpor

da verdade serena
renasço tão vivo
enchido de ardor
 
vontade de viver
meu maior prazer
teu coração de colaborador


(Cássio D. Versus)

26 de mai. de 2011

(14/08/1932)


Vinha elegante, depressa,
sem pressa e com um sorriso,
E eu, que sinto co'a cabeça,
Fiz logo o poema preciso.

No poema não falo dela
Nem como, adulta menina,
Virava a esquina daquela
Rua que é a eterna esquina.

No poema falo do mar,
Descrevo a onda e a mágoa.
Retê-lo faz-me lembrar
Da esquina dura, ou da água.


(Fernando Pessoa)

(23/05/1932)


A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.


(Fernando Pessoa)

10 de mai. de 2011

Aniversário


um coração
na mão
uma vela
no bolo

um ano
a mais
um ano
a menos

assopra
a chama
que a vida
te assopra


(Cássio D. Versus)

7 de mai. de 2011

Caravela [redescobrimentos]


Do livro "Caravela [redescobrimentos]" de Gabriel Bicalho


marinha VI

e
no
mar
sereno
sem remo
sem rumo
sem rumor
:
vê-las soltas ao sol
as brancas velas
do amor


marinha X

e
agora
ancora
em teu peito
(porto perfeito)
meu barco
à deriva
!


marinha XI

quebra-mar
quebra mar
quero amar
sem bramar
abrandar
sem bradar
quebrantar
sem quebrar


marinha XII

o amor se faz
entre nós
na rede
e em paz


marinha XIII

e
tê-la
domada
(amada)
estrela
do mar
!


marinha XIX

balé na areia
:
baila com a morte
a baleia
!


marinha XXV

algo
de
alga
nos teus verdes
olhos de náufraga


marinha XXVII

abismo
marinho
:
cavá-lo
sozinho


marinha XXXII

sem reta
nem rota
paira
sobre a
praia
meu sonho
gaivota


marinha XXXIV

vago vago
vagarosamente
pelas vagas
deste mar
que me navega
:
náufrago
de mim mesmo!


marinha XXXVI

no cais
ou
no caos
mergulho
em mim
mesmo

...

Declaração de Amor


E se
eu for
Jura que
Também vai
Se foder?


(Cássio D. Versus)

4 de mai. de 2011

Estações


E para onde poderíamos ir?.. (...) Não se volta ao ninho.
Aliás, não somos caminhantes... Somos o próprio caminho...


(Cássio D. Versus, 2006)

3 de mai. de 2011

Ado


Quando o meu corpo morrer
Me separa desta alma no ato
Quero no partir desvanecer
Sem leito ou julgamento gabado,

Me joga no rio ou na corrente do vento,
Me deixa dissipar realengo no espaço -
Pra que me mandar pro paraíso jurado
Se está nesse arvoredo meu enobrecimento?

E se pagar pelos pecados é o que mereço
Então que venham tirar-me a razão! -
De querer ser punido na seiva do berço
A divagar eternamente feito ar sem salvação


(Cássio D. Versus)

7 de abr. de 2011

Corrente Sanguínea


"A verdade? Que bobagem, se nem o próprio paraíso criado por Deus para a felicidade e convívio pacífico de todas as criaturas foi assim tão confiável e verdadeiro, (...) e se por ventura algum bem te desejo, é que não encontre em tua busca famigerada de espiritualidade uma entidade travessa que te prometa as nuvens como abrigadouro divino para somente entregá-la aos trovejos da celestial tirania. Te cuida, menina. E eu amo a tua batida cardíaca nas fibras deste espaço, um abraço, por todas as nossas enamoradas palhaçadas prometidas."

Para Priscila. A Gótica Irremediável.


(Cássio D. Versus / 2008)

30 de mar. de 2011

Rumo


Adoro caminhar
seja muito
ou pouco
o todo
ou o resto

Adoro caminhar
por nada
ou bastante
o limpo
ou o sujo
esteja casto
ou libertino

Adoro caminhar
vistoso ou disforme
o corpo
ou o traje


(Cássio D. Versus, 2007)

1994




A mão da escada;

de quem seriam

os dedos

unhas

e palma?

Mantenho a calma

sem saber

o que me aguarda.

A mão da escada;

de quem seria

essa emboscada?

No final dos degraus

será boa gente

ou malevolente alma?


(Cássio D. Versus - Visita à Bonsucesso)

26 de mar. de 2011

Ordem


Não sei o que escreverei, nunca soube.
Escrevo por encargo, e tenho ignorado
quem ordeno o escrito, quem lerá estas palavras.
Uma mão me dita, cega,
quanto tenho de pagar. Por trás
de mim mesmo, um olho manco, ou mudo
ou sem resposta, dá forma
a minha angústia. O que importa
é um ritmo. Tu te fixarás apenas
no acento exato, na sílaba
sexta, a adônica, sibilante, ou a sáfica,
a heróica, nas letras desnudas
palatais. E o mundo, então?

Uma gardênia subterrânea se derrama
na página, e seu perfume delineia
no poema um estranho marfim,
com sangue e unhas. O conceito
se funde agora em uma única e larga
lenta frase que destrói
o olho seco que me olha.

Escrevo porque escrevo, por me dá ganas.
Mas ganha-me o mundo e muitos
mortos se adensam em minha mão.
Para eles escrevo, embora nunca
o saibam? Para eles me dito
quanto hei de escrever? Um mundo
silencioso corrige ou emenda
minhas palavras. Diz-me: bem,
não apagues, acrescento aqui não apenas
um adjetivo, mas os ossos,
a garganta despida, o continente,
amargo em que habitas, este
áspero tempo em que vives.

E em certas ocasiões obedeço.


(Animal de Silêncios, Jaime Labastida)

2 de mar. de 2011

Bailarina


Teu passo
Teu beijo
Tua dança
Mais uma vez

Teu laço
Teu cheiro
Tu'aventurança
Tua inquietação
Teu mimo
Tua cobrança
Teu coração
Batendo forte
No meu peito
Tua emboança
Teu cinismo
Todo esse teu jeito.

Tudo outra vez,

Caso contrário
Eu juro que passo
A vida todinha
Vivendo em sonho
Toda essa estúpidez


(Cássio D. Versus)

25 de fev. de 2011

Duas Almas


Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
vives sozinha sempre, e nunca foste amada...

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha.
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...


(Alceu Wamosy)

Amar


Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
mais este e aquele, o outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disse que se pode amar alguém
durante a vida inteira é porque mente.

Há uma primavera em cada vida:
é preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz foi p'ra cantar.

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
que seja a minha noite uma alvorada,
que me saiba perder... p'ra me encontrar...


(Florbela Espanca)

24 de fev. de 2011

Soneto


Vieste tarde, meu amor. Começa
em mim caindo a neve devagar...
Morre o sol; o outono vem depressa,
e o inverno, finalmente, há-de chegar.

E se hoje andamos juntos, na promessa
de caminharmos toda a vida a par,
daqui a pouco o teu amor tem pressa
e o meu, daqui a pouco, há-de cansar.

Dentro em breve, por trás das velhas portas,
dando um ao outro só palavras mortas
que rolam mudas sobre nossas vidas,

ouviremos, nas noites desoladas,
tu, a canção das vozes desejadas,
eu, o chorar das vozes esquecidas.


(Nunes Claro)

Nihil


Sem aos outros mentir, vivi meus dias
desditosos por dias bons tomando,
das pessoas alegres me afastando
e rindo às outras mais do que eu sombrias.

Enganava-me assim, não me enganando;
fiz dos passados males alegrias
do meu presente e das melancolias
sempre gozos futuros fui tirando.

Sem ser amado, fui feliz amante;
imaginei-me bom, culpado sendo;
e se chorava, ria ao mesmo instante.

E tanto tempo fui assim vivendo,
de enganar-me tornei-me tão constante,
que hoje nem creio no que estou dizendo.


(Guimaraens Passos)

O Rebelde


É um lobo do mar: numa espelunca
mora, à beira do oceano, em rocha alpestre.
Ira-se a onda e, qual tigre silvestre,
de mortos vegetais a praia junca,

e ele, olhando como um velho mestre
o revoltoso que não dorme nunca,
recurva o dedo como garra adunca
sobre o cachimbo, único amor terrestre.

E então assoma-lhe um sorriso amargo...
É um rebelde também, cérebro largo,
que odeia os reis e os padres excomunga.

À noite, dorme sem rezar: que importa?
Enorme cão fiel, guarda-lhe a porta
o velho mar soturno que resmunga.


(Lúcio de Mendonça)

21 de fev. de 2011

Agulha no Palheiro


Para que destruir-te com uma voz, então,
para que encerrar-te em um sarcófago sonoro?
Fiquemos assim,
cobiçando um ao outro, e sem falar.


(Jaime Labastida, "Animal de Silêncios")

18 de fev. de 2011

Divina Comédia


Erguendo os braços para o céu distante
e apostrofando os deuses invisíveis,
os homens clamam: - Deuses impassíveis,
a quem serve o destino triunfante,

por que é que nos criastes?! Incessante
corre o tempo e só gera, inextinguíveis,
dor, pecado, ilusões, lutas horríveis,
num turbilhão cruel e delirante...

Pois não era melhor na paz clemente
do nada e do que ainda não existe,
ter ficado a dormir eternamente?

Por que é que para a dor nos evocastes?
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
dizem: - Homens, por que é que nos criastes?!


(Antero de Quental)

16 de fev. de 2011

Ignorabimus


Quanta ilusão!... O céu mostra-se esquivo
e surdo ao brado do universo inteiro...
De dúvidas cruéis prisioneiro,
tomba por terra o pensamento altivo.

Dizem que o Cristo, o filho de Deus vivo,
a quem chamam também Deus verdadeiro,
veio o mundo remir do cativeiro,
e eu vejo o mundo ainda tão cativo.

Se os reis são sempre reis, se o povo ignavo
não deixou de provar o duro freio
da tirania, e da miséria o travo,

se é sempre o mesmo engodo e falso enleio,
se o homem chora e continua escravo,
de que foi que Jesus salvar-nos veio?...


(Tobias Barreto)

Eu Vi a Linda Jônia...


Eu vi a linda Jônia, e namorado
fiz logo eterno voto de querê-la;
mas vi depois a Nize, e é tão bela
que merece igualmente o meu cuidado.

A qual escolherei, se neste estado
eu não sei distinguir esta daquela?
Se Nize agora vir, morro por ela,
se Jônia vir aqui, vivo abrasado.

Mas ah! que esta me despreza, amante,
pois sabe que estou preso em outros braços,
e aquela não me quer, por inconstante.

Vem, Cupido, soltar-me desses laços:
ou faze desses dois um só semblante,
ou divide o meu peito em dois pedaços!


(Alvarenga Peixoto)

Armada de Aspereza Minha Estrela


Armada de aspereza minha estrela
a nova dor me leva e me encaminha;
mas se uma glória vi perder-se asinha,
foi por quem a perdi, glória perdê-la.

Sucede a nova dor, nova querela
à liberdade que gozado tinha:
não sei remédio dar à mágoa minha;
e quem lho pode dar não sabe dela.

Que alívio logo em meu tormento espero,
se a que mo censura na alma, não o sente?
Senão se o vê nos olhos com o que vejo.

Porém, ah, doce amor, eu antes quero
passar convosco a vida descontente,
que contente viver sem meu desejo.


(Fernão Álvares do Oriente)

28 de jan. de 2011

Alumbramento


Eu vi os céus! Eu vi os céus!
Oh, essa angélica brancura
Sem tristes pejos e sem véus!

Nem uma nuvem de amargura
Vem a alma desassossegar.
E sinto-a bela... e sinto-a pura...

Eu vi nevar! Eu vi nevar!
Oh, cristalizações da bruma
A amortalhar, a cintilar!

Eu vi o mar! Lírios de espuma
Vinham desabrochar à flor
Da água que o vento desapruma...

Eu vi a estrela do pastor...
Vi a licorne alvinitente!
Vi... vi o rastro do Senhor!...

E vi a Via-Láctea ardente...
Vi comunhões... capelas... véus...
Súbito... alucinadamente...

Vi carros triunfais... troféus...
Pérolas grandes como a lua...
Eu vi os céus! Eu vi os céus!

- Eu vi-a nua... toda nua!


(Manuel Bandeira, "Meus Poemas Preferidos")

19 de jan. de 2011

Bandoleiro


me esconder
em você
é a melhor coisa a fazer
perder a identidade
e me resumir
a orgasmo teu

"olá, teu corpo, o prazer é meu."


(Cássio D. Versus)

18 de jan. de 2011

Morrer


Se eu morrer
Me espera na grama
Do horizonte adiante
Posso onde estar
Qualquer lugar
Seria um instante


(Cássio D. Versus)

17 de jan. de 2011

Indulgência


Se Deus é justo
A piedade
É assunto ordinário,

Perdoar filho da puta
Me parece mais
Ser coisa do Diabo


(Cássio D. Versus)

16 de jan. de 2011

tai-otoshi para a kodokan


passos lentos
escrevem
VONTADE DE CHEGAR

precisa andar
como quem já chegou

chega de chegar

depressa
é muito devagar


(Paulo Leminski)

Noite


"Boa noite."

"Boa noite."

"Durma bem."

"Vai você."


(Cássio D. Versus)

14 de jan. de 2011

Meteorito


(Art: Justin Gedak)


Bem que vi a estrela despencar
e não fiz nenhum pedido
mas ficou no ar o compromisso
de esperá-la novamente passar

- Para Moum -


(Cássio D. Versus)