30 de mar. de 2011

Rumo


Adoro caminhar
seja muito
ou pouco
o todo
ou o resto

Adoro caminhar
por nada
ou bastante
o limpo
ou o sujo
esteja casto
ou libertino

Adoro caminhar
vistoso ou disforme
o corpo
ou o traje


(Cássio D. Versus, 2007)

1994




A mão da escada;

de quem seriam

os dedos

unhas

e palma?

Mantenho a calma

sem saber

o que me aguarda.

A mão da escada;

de quem seria

essa emboscada?

No final dos degraus

será boa gente

ou malevolente alma?


(Cássio D. Versus - Visita à Bonsucesso)

26 de mar. de 2011

Ordem


Não sei o que escreverei, nunca soube.
Escrevo por encargo, e tenho ignorado
quem ordeno o escrito, quem lerá estas palavras.
Uma mão me dita, cega,
quanto tenho de pagar. Por trás
de mim mesmo, um olho manco, ou mudo
ou sem resposta, dá forma
a minha angústia. O que importa
é um ritmo. Tu te fixarás apenas
no acento exato, na sílaba
sexta, a adônica, sibilante, ou a sáfica,
a heróica, nas letras desnudas
palatais. E o mundo, então?

Uma gardênia subterrânea se derrama
na página, e seu perfume delineia
no poema um estranho marfim,
com sangue e unhas. O conceito
se funde agora em uma única e larga
lenta frase que destrói
o olho seco que me olha.

Escrevo porque escrevo, por me dá ganas.
Mas ganha-me o mundo e muitos
mortos se adensam em minha mão.
Para eles escrevo, embora nunca
o saibam? Para eles me dito
quanto hei de escrever? Um mundo
silencioso corrige ou emenda
minhas palavras. Diz-me: bem,
não apagues, acrescento aqui não apenas
um adjetivo, mas os ossos,
a garganta despida, o continente,
amargo em que habitas, este
áspero tempo em que vives.

E em certas ocasiões obedeço.


(Animal de Silêncios, Jaime Labastida)

2 de mar. de 2011

Bailarina


Teu passo
Teu beijo
Tua dança
Mais uma vez

Teu laço
Teu cheiro
Tu'aventurança
Tua inquietação
Teu mimo
Tua cobrança
Teu coração
Batendo forte
No meu peito
Tua emboança
Teu cinismo
Todo esse teu jeito.

Tudo outra vez,

Caso contrário
Eu juro que passo
A vida todinha
Vivendo em sonho
Toda essa estúpidez


(Cássio D. Versus)