11 de mai. de 2023

Gerê Moreira e o Cinema Nacional


(Ela) - (...) Era uma época bruta, uma babilônia à la primeiro ato de Chazelle se me permite o exagero. Investíamos do próprio bolso, mendigávamos patrocinadores, até montávamos as fitas porém era um "corre-corre" desesperador encontrar ajuda, distribuir o trabalho em circuito nacional, etc.

(Eu) - Imagino, o artista tinha que se virar em mil, se transformar em empresário, bater nas portas das distribuidoras privadas, negociações, esperanças, desistências. Realmente posso imaginar o sufoco.

(Ela) - Gerê Moreira deu uma ótima entrevista a revista SET de cinema no final dos anos 90 onde ele fala melhor sobre como a maioria dos brasileiros que se envolvem com a sétima arte está despreparada para esse lado mercantilista do negócio, grande parte perde rumo, muda de ofício.

(Eu) - Mas esse Gerê parou com cinema no início dos 80, não?

(Ela) - 82 para ser mais exato. Antes do Collor foder o país. Mas segundo ele o motivo de abandonar essa arte foi realmente o problema com distribuição antes mesmo da extinção da Embrafilme. 

(Eu) - Até hoje estou para ver seu primeiro filme "O Menino da Porteira" de 76.

(Ela) - Foi bem negociado com as distribuidoras privadas, passou dos 8 milhões de espectadores e faturou lá por uns 100 mil. Infelizmente só te emprestei os que tenho, aliás tá me enrolando, "Mágoa de Boiadeiro" de 78 e "Fuscão Preto" de 81, seus segundo e terceiro filmes. Engraçado que no caso destes dois o Gerê não soube lidar com a quantidade de gente envolvida na distribuição, o próprio já confessou não fazer idéia do quanto rendeu e de quem viu o filme. "Investir no cinema popular, para se tornar uma alternativa entre pornôs e produções inteligentes." Porém mesmo com a boa reação de um público relevante que curtia a realidade bucólica e poética das comunidades nos interiores no país, enfim pois de nada adiantava sem fortes empresários, financiadores de peso, alguns desistiam do projeto abortando as chances do que poderiam ser sucessos (in)justamente por isso.


(Resquícios de um Diálogo, 2008)


10 de mai. de 2023

Presentes em Excesso Jamais!

 

Ela disse que estava de mudança,

e que estava preocupada com a falta de tempo

além das várias caixas de papelão que faltavam preencher.


Em seguida, "nossa, você me deu muitos presentes."


Demorei quase 13 anos para entender a mensagem:

A vadia estava reclamando.


(D. Versus)


Não quero ter cuidado

 

"Nâo quero ter cuidado para pisar em tuas terras, sofro e aguento essas consequências, quaisquer espinhos de teus rosários não te afastarão da brega peça pulsante em meu peito. Nos separamos, sim, deixamos de nos tocar, disfarces caíram, lobos se revelaram, cortes profundos que refletiram desviados olhares angustiados... É o teu corpo que seduz navalhas, no remanso do recanto fúnebre encontro o teu pecaminoso objetivo, objetivo que ainda não chegou a ti, não sinto medo mas me assusta um pouco teu saborido véu ocultando maravilhosas heresias e mortíferos temores. A noiva do renegado não se torna decaída pois a luxúria também possui seus protetores... mulher, me apaixono pela tua criatividade negra e faiscante, dispa-me e tire de sua presa o que lhe pertence, a saliva, o sêmen e o sangue.


Jesus... como adoro esse mundo e essa gente do mangue..."


(Derek, caderno II, página 38)


9 de mai. de 2023

Uma excepcional sinfonia soturna


"Uma excepcional sinfonia soturna, feito um ritual sonoro secreto, co'os murmúrios arrepiantes das velas e dos ventos, penetro lentamente a minha lâmina na parte mais macia de sua barriga, com calma e sem aquele desespero do cordeiro chamar atenção com seus primeiros berros. O hino dos arcanjos de abatimento do Senhor ecoa em meus pensamentos enquanto devaneio no êxtase de sentir suas entranhas com as minhas próprias mãos, tudo ainda tão quente e molhado, gosmento, acolhedor, tão significativo quanto uma trilha iluminada no meio da noite. Quero bordar os restos mortais como lembrança despida dos meus sentimentos por estes sacrifícios. (...) Ele tem mais cicatrizes do que eu, me pergunto o porquê. Deveria ter perguntado, mas ele nem me conhecia, quais razões teria para responder a um estranho? Fatio uma pequena tatuagem, sem muita sujeira e guardo em um saco plástico. Todo esse lugar me lembra útero, sinto-me um bebê se descobrindo na escuridão antes de sair pela porta da frente com duas mochilas recheadas de matéria humana em decomposição (dividirei a viagem em três partes). O macrocosmo me mantém conectado co'vibrações, tecidos invisíveis do drama global, durante alguns dias, logo a esperança começa a desaparecer e sinto a forte necessidade de agir segundo Derek Theódoros ou sucumbirei aos desejos proibidos do mundo, sanguinários desejos, tentei falar comigo mesmo há séculos mas o tempo fragmenta mensagens e o que foi ouvido por aqueles outrora aliados hoje combatem as memórias da verdade gloriosa e amaldiçoada envolvendo umbigos, falos e vulvas. (...) Preparo a nossa cama nupcial, você morta na box spring, co'essas colchas, mantas e lençóis, te enfeitam tornando-a ainda mais bela para um quadro que duraria mais do que nossas vidas repetidas três vezes, poeira, areia e o pó dos ossos formando este triângulo, fazei-nos repousar juntos, a constante falta do seu sangue correndo por suas veias devora o meu oceano espiritual deixando-o seco, amargo e cheio de ódio. Preciso da solidão para continuar me descobrindo, para continuar me explorando, para continuar me estudando até poder agradá-la do jeito que merece, do jeito que precisa, quero estar aqui para beijar a tua palidez protagonista de galáxias fantásticas operando enigmaticamente. - O solitário com o dom de ajudar aqueles que o menosprezam. Devo agradecer? - A empatia do demônio, a arrogância de Deus, continuo querendo ir em frente ao mesmo tempo que me desperta esta vontade de revisitar os passados de incógnitos eus que são tão somente uma força abrindo portas em paredes vazias. (...) Meus dois irmãos tiveram tempo de me julgar? Doutrina, não venha até a mim, quero sair de você, como um orgasmo sombrio onde eu escorreria de ti feito pequeno coágulo do teu prazer, e cresceria conforme suas necessidades. A mãe da minha satisfação. E eu, Warlock, pai de ninguém, apenas filho da natureza e de todos os dias que existo sem existir por completo, pudera. Minhas últimas palavras, não tenho dúvidas, de que serão: "Não esqueça a estaca no coração." O adeus ficará para sempre, pois as lembranças enfeitiçadas, as energias, teimosas e impacientes, o perfume da existência, estes permanecerão. Nós só voltaríamos por saudade, ou pela coincidência que casa com o destino a ponto de acontecer tudo de novo, com gôzo ou sem gôzo."


(Derek, caderno II, página 37)


8 de mai. de 2023

Girolamo


"As louras tendem a preferir verduras frescas, frutos do mar, peixes na manteiga, aves, comidas adocicadas, cremosas e suaves e queijos não muito picantes. Bebem vinhos brancos e champanhe."


"As morenas preferem as hortaliças mais marcantes, ostras com limão, embutidos apimentados, risotos, carne vermelha, queijos fortes, doces recheados e chocolate. Gostam de vinho tinto e de champanhe."


"As ruivas, de pele clara e sensível, escolhem alimentos requintados e leves, mas seu temperamento as aproxima do fogo. Tomam vinhos brancos seco, Côtes du Rhône e rosados."


(Segundo Giacomo Casanova)

Yosemite

 

Uma incrível paisagem se descortina

especialmente para mim,

toda a monotonia sofrida até agora

parece ter valido a pena.


Me revelo um vale de trevas de origem glacial com altas escarpas de granito escarlate formando muros e paredes de dois mil metros de altitude, a minha tristeza formou deslumbrantes cachoeiras e rios encantadoramente mágicos de trechos em trechos, de página em página, águas cristalinas (especialmente de agosto a outubro). Uma fauna própria de monstros bestiais em convívio quase harmônico com aureoladas criaturas angelicais, flora silvestre com as mais hipnóticas flores e os melhores e mais doces venenos inéditos ao povo de cima. A cada ano cerca de 3.000 pessoas são enterradas aqui, ou levadas pelas verdes correntezas das diversas travessias. Há vinículas para os bem-vindos e uma especial hospitalidade com direito a cortesias insubstituíveis. É mais que alma este cenário abstrato surgido há milhões de anos antes da própria vida se manifestar através de luzes e relâmpagos. Eis-me no ventre sagrado, o embrião divino de onde as maravilhas da noite são expelidas com toda a perfeição das infinitudes. Idílio. Paisagens que engolem características e circunstâncias. Lembro que até a primeira metade do século 19, o impossível era subir até os montes sacros de madeira e pele seca de fora do nosso círculo. 


Escrevo agora esta carta de fora do nosso círculo.

Para outros que saíram, por curiosidade, por ventura,

à procura de novidades, à procura de movimentos,

por sede de conhecimento, ou por deuses de algum olimpo.


Encontrem-se e ajudem-se. Estamos todos muito famintos.




PS: Yosemite: "Aqueles que matam." Nome dado pela tribo miwok.


(D. Versus)


7 de mai. de 2023

Eutanásia Consciente

 

"Apesar do que julgam. 

Vejo belos atos de bondade e compaixão

                        no meu trabalho,

             vejo coragem e sacrifício."


(Norma Bowe - Deus te abençoe!)


6 de mai. de 2023

Não me Ressuscite


"Na dúvida, 
sempre se faz mais do que menos.
Às vezes, isso significa ir além do necessário 
e do que o corpo pode aguentar."

Segundo Desanka, como diz uma amiga:
"Quem sabe viver, sabe morrer."


(Médica coordenadora Desanka Dragosavac,
da UTI do Hospital Fundação Centro de Campinas)