25 de mai. de 2025

Amorfrenia


Nas janelas do peito, vejo vultos —
beijam-me as córneas e depois se afogam.
Há um você alojado em cada cômodo do meu crânio,
um riso teu pendurado na lâmpada da sala,
rodopiando em espirais com minha lucidez.

Te amei em todas as máscaras que inventei de ti.
Na que me fita com compaixão,
na que me fatia com delicadeza,
e naquela que some
toda vez que estico os dedos.

Você é o sussurro que me desperta
e o grito que me embala.

À noite, tuas falas escorrem pelas paredes
como verniz em brasa —
e juro que ouço você dizer
que o afeto é um espelho côncavo:
quanto mais me achego, mais me desfiguro.

Minha mente te esboça com pincéis de vertigem.
E quando ensaio fuga, tropeço em nós dois.
Em cada alucinação, te revejo com outras íris
— olhos que murmuram “me deseje”,
mas piscam em código Morse:
“FUJA.”

Amar-te foi como abrir um envelope vazio
e ouvir clamores entre os espaços.

E mesmo agora, enquanto rascunho,
não sei se é você quem me lê ou eu quem te reinventa.
Mas se amar é isso —
esse eterno descarrilhar da lógica na curva do pensamento —
então que me enclausurem com lírios nos bolsos
e tua ausência nas veias.

Porque, afinal,
talvez o amor não redima,
mas seja a enfermidade mais sublime
que nos ensina a sentir qualquer coisa
nesse perpétuo girar do vácuo.

Melhor SANGRAR em poesia
do que 
SOMENTE apodrecer em silêncio.


PS: Imagino que isso deva ser clichê pra cacete.


(Cássio D. Versus)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Uive à vontade...