12 de jan. de 2025

Matrimônio (Resumo do Teste)


Ah, o casamento. A venerada instituição que, ao mesmo tempo, é a cova rasa do amor espontâneo e a pedra angular das convenções sociais. Não há erro maior do que confundir a assinatura de um contrato jurídico com o ímpeto visceral do amor verdadeiro. Enquanto o amor é efêmero, delirante e gloriosamente anárquico, o casamento é burocrático, estático e minuciosamente regulado por códigos civis e tabelas de Excel conjugal.

O casamento é uma máquina de moer almas que transforma amantes ardentes em carcereiros emocionais, presos em um ciclo interminável de cobranças sobre o uso do banheiro e a divisão do detergente. Manuel Bandeira talvez chamasse isso de "um retrato emoldurado do desencanto".

Se o amor é o vôo de Ícaro, o casamento é o teto baixo da sala onde ele inevitavelmente se esborracha. A paixão — esse fogo fátuo que devora o ar da existência — não sobrevive ao enclausuramento das rotinas matrimoniais. É o rito que converte o "eu te amo" em um "quem vai buscar o pão hoje?" com entonação passivo-agressiva.

E as falhas? Fatais.

  • Idealização do Outro: No altar, não se casa com a pessoa real, mas com a projeção delirante de um ideal que o cotidiano tem a missão de assassinar lentamente.
  • Monotonia Prosaica: Uma vez consumado, o casamento tende a transformar o desejo em hábito e o entusiasmo em obrigação. O amor não é vencido pelo ódio, mas pela exaustiva familiaridade.
  • Ilusão da Exclusividade: Nada mais ingênuo do que acreditar que a exclusividade sexual ou emocional seja intrínseca à convivência forçada de décadas. A monogamia perpétua é uma das maiores mentiras do romantismo.

O casamento é "uma eterna segunda-feira vestida de domingo". Acabo concluindo que, em muitos casos, o casamento apenas oficializa uma relação que já estava condenada — transformando amantes eventuais em sócios de uma empresa que inevitavelmente falirá.

O amor, para florescer e fluir, exige caos, liberdade e mistério. O casamento, com suas leis e listas de tarefas, é um antídoto fatal para isso, com filhos, mais vítimas. Amar é uma revolução espontânea; o casamento, um tratado de paz assinado sob coação.


(Cássio D. Versus / 2006 Matéria PTBR)

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