Um dia Gaimon encontrou o fogo. Primeiro, temeu-o, pois a luz feriu seus olhos acostumados à penumbra, e o calor queimou seus dedos curiosos. Mas, ao persistir, descobriu que o fogo não era apenas destruição; era também criação. Nele, aprendeu a ver além do medo, a moldar formas na escuridão e a sentir o calor não como inimigo, mas como força. Ali, percebeu: o fogo era sua vontade, a centelha de vida que, mesmo pequena, poderia transformar tudo.
Mas o fogo só fazia sentido porque havia sombras. Essas sombras, inicialmente desprezadas como meros reflexos do que não se podia tocar, revelaram-se companheiras sussurrantes. Na escuridão projetada pelo fogo, a pequena criatura viu contornos, histórias e memórias. As sombras não negavam o fogo, mas completavam sua existência. Eram os limites que faziam a luz brilhar mais intensamente.
Assim, entre o fogo que guiava e a sombra que refletia, Gaimon Versus encontrou seu propósito: não fugir de um ou outro, mas caminhar na estreita linha onde ambos se encontravam, onde luz e escuridão dançam em harmonia. E, pela primeira vez, a pequena criatura talvez saiba o quão é imensa e microscópica simultâneamente.
(Cássio D. Versus, Cartas Para o Passado, 2015)
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