8 de mar. de 2025

Passageiro Sombrio


Eis que não são os leviatãs do mar, nem os gafanhotos do Apocalipse que mais atormentam o homem, mas sim as feras que habitam sua própria alma. Pois está escrito: "O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável; quem pode compreendê-lo?" (Jeremias 17:9).

Nos desertos do pensamento erguem-se sombras sem nome, espectros que sussurram na noite, que tentam e desviam, que semeiam o medo e colhem a perdição. Não são feitos de carne ou de ossos, não portam garras nem presas, mas destroem com dúvidas e consomem com angústia.

Caim não precisou de um demônio para erguer sua mão contra Abel — sua inveja foi suficiente. Judas não teve um espectro a lhe segredar a traição — a prata pesou mais que sua fé. Assim são os monstros internos: nascem do desejo, crescem no silêncio e devoram na hora mais escura.

Aqueles que buscam dragões lá fora esquecem que os verdadeiros habitam o espelho. Pois antes de buscar expulsar demônios do mundo, é preciso exorcizar os que se aninham na mente, pois "o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mateus 26:41).

E assim caminha o homem, carregando sua própria batalha, duelando com os fantasmas que ninguém vê, clamando por redenção em um campo de guerra invisível. Mas aquele que reconhece suas trevas e busca a luz, este sim poderá dizer: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo" (Salmos 23:4).
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