13 de mar. de 2013

Ao Governador António Luíz


Sal, cal e alho
caiam no teu maldito caralho. Amém.
O fogo de Sodoma e de Gomorra
em cinza te reduzam essa porra. Amém.
Tudo em fogo arda. Tu, e teus filhos, e o Capitão da Guarda.


(Gregório de Matos)

A Jesus Cristo Nosso Senhor


Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
de vossa alta clemência me despido;
porque quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto um pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido,
vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma orelha perdida e já cobrada,
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na sacra história,

eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
perder na vossa ovelha a vossa glória.


(Gregório de Matos)

Soneto



Formoso Tejo meu, quam diferente
Te vejo e vi, me vês agora e viste!
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste;
Claro te vi eu já, tu a mim contente.

A ti foi-te trocando a grossa enchente,
A quem teu largo campo não resiste;
A mim trocou-me a vista, em que consiste
Meu viver contente ou descontente.

Já que somos no mal participantes,
Sejamo-lo no bem. Ah quem me dera
Que fossemos em tudo semelhantes!

Lá virá então a fresca primavera;
Tu tornarás a ser quem eras d'antes,
Eu não sei se serei quem d'antes era!


(Francisco Rodrigues Lobo)