Que palco é esse que tua pena pintou,
Se não o véu roto de tua própria visão?
És arauto das trevas, mas cegas o dia,
Confundes carne com ruína, amor com agonia.
Vês monstros nas vestes de quem ousa viver,
Mas esqueces que o espírito, mesmo em trapos,
Arde mais feroz que mil sóis.
Quem te fez juiz do brilho alheio,
Se teu tribunal é feito de espelhos partidos?
Falas de corpos vazios, mas eu digo:
Cada cicatriz é um grito de vitória,
Cada curva, um mapa do mundo.
O aço que oprime também molda,
E as línguas do tempo lambem, mas não consomem.
Lembra-te: somos a alvorada que desafia a noite,
O ventre que sustenta o infinito.
Não herdamos de Eva o "horror",
Mas o fogo de questionar o Criador.
A ti, poeta das sombras, ofereço luz:
Não há "bestialidade" onde há coragem,
Não há "decadência" em quem respira.
A nudez que te aterroriza é o altar da existência,
E cada ruga, uma oração que o tempo entoa.
Que a chuva lave tua pena e teu espírito.
E lembra: