8 de mar. de 2015

O Suicida


(...)

Lívido e inocente, mergulhaste.
Será a morte, acaso, a simples continuação
da noite?
Tu, que do mar vieste,
não aprendeste com as marés
a de novo tentar?

Imagino o que tanto ensaiaste:
o inútil passeio, o encontro falido,
o cigarro negado, a espera silente,
aquele cão que não te reconheceu.

Uma palavra mágica e serias hoje
um ser vertical.

Participo, estática, da friagem
que te habita.

Chamo-te pelo nome de infância.
Convoco pirilampos para o teu olhar.
Mas pertences, agora, ao oceano.

No tombadilho repousas.

Devo içar as nuvens, soltar teu barco,
rumo à praia do sono que te aguarda.
A lua, lanterna dos navegantes,
te guiará.

Quando chegar a maré alta, hás de ancorar
lá, onde os pássaros de sombra se calam,
lá, onde as flores de sombra se abrem,
lá, onde os habitantes de sombra
por certo te recolherão.


("Elegias", Yone Rodrigues) 

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