9 de mai. de 2023

Uma excepcional sinfonia soturna


"Uma excepcional sinfonia soturna, feito um ritual sonoro secreto, co'os murmúrios arrepiantes das velas e dos ventos, penetro lentamente a minha lâmina na parte mais macia de sua barriga, com calma e sem aquele desespero do cordeiro chamar atenção com seus primeiros berros. O hino dos arcanjos de abatimento do Senhor ecoa em meus pensamentos enquanto devaneio no êxtase de sentir suas entranhas com as minhas próprias mãos, tudo ainda tão quente e molhado, gosmento, acolhedor, tão significativo quanto uma trilha iluminada no meio da noite. Quero bordar os restos mortais como lembrança despida dos meus sentimentos por estes sacrifícios. (...) Ele tem mais cicatrizes do que eu, me pergunto o porquê. Deveria ter perguntado, mas ele nem me conhecia, quais razões teria para responder a um estranho? Fatio uma pequena tatuagem, sem muita sujeira e guardo em um saco plástico. Todo esse lugar me lembra útero, sinto-me um bebê se descobrindo na escuridão antes de sair pela porta da frente com duas mochilas recheadas de matéria humana em decomposição (dividirei a viagem em três partes). O macrocosmo me mantém conectado co'vibrações, tecidos invisíveis do drama global, durante alguns dias, logo a esperança começa a desaparecer e sinto a forte necessidade de agir segundo Derek Theódoros ou sucumbirei aos desejos proibidos do mundo, sanguinários desejos, tentei falar comigo mesmo há séculos mas o tempo fragmenta mensagens e o que foi ouvido por aqueles outrora aliados hoje combatem as memórias da verdade gloriosa e amaldiçoada envolvendo umbigos, falos e vulvas. (...) Preparo a nossa cama nupcial, você morta na box spring, co'essas colchas, mantas e lençóis, te enfeitam tornando-a ainda mais bela para um quadro que duraria mais do que nossas vidas repetidas três vezes, poeira, areia e o pó dos ossos formando este triângulo, fazei-nos repousar juntos, a constante falta do seu sangue correndo por suas veias devora o meu oceano espiritual deixando-o seco, amargo e cheio de ódio. Preciso da solidão para continuar me descobrindo, para continuar me explorando, para continuar me estudando até poder agradá-la do jeito que merece, do jeito que precisa, quero estar aqui para beijar a tua palidez protagonista de galáxias fantásticas operando enigmaticamente. - O solitário com o dom de ajudar aqueles que o menosprezam. Devo agradecer? - A empatia do demônio, a arrogância de Deus, continuo querendo ir em frente ao mesmo tempo que me desperta esta vontade de revisitar os passados de incógnitos eus que são tão somente uma força abrindo portas em paredes vazias. (...) Meus dois irmãos tiveram tempo de me julgar? Doutrina, não venha até a mim, quero sair de você, como um orgasmo sombrio onde eu escorreria de ti feito pequeno coágulo do teu prazer, e cresceria conforme suas necessidades. A mãe da minha satisfação. E eu, Warlock, pai de ninguém, apenas filho da natureza e de todos os dias que existo sem existir por completo, pudera. Minhas últimas palavras, não tenho dúvidas, de que serão: "Não esqueça a estaca no coração." O adeus ficará para sempre, pois as lembranças enfeitiçadas, as energias, teimosas e impacientes, o perfume da existência, estes permanecerão. Nós só voltaríamos por saudade, ou pela coincidência que casa com o destino a ponto de acontecer tudo de novo, com gôzo ou sem gôzo."


(Derek, caderno II, página 37)


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