24 de out. de 2012

Na Rua do Sabão


Cai cai balão
Cai cai balão
Na Rua do Sabão!

O que me custou arranjar aquele balãozinho de papel!
Quem fez foi o filho da lavadeira.
Um que trabalha na composição do jornal e tosse muito.
Comprou o papel de seda, cortou-o com amor, compôs os gomos oblongos...
Depois ajustou o morrão de pez ao bocal de arame.

Ei-lo agora que sobe - pequena coisa tocante na escuridão do céu.
Levou tempo para criar fôlego.
Bambeava, tremia todo e mudava de cor.
A molecada da Rua do Sabão
Gritava com maldade:
Cai cai balão!

Subitamente, porém, entesou, enfunou-se e arrancou das mãos que o tenteavam.
E foi subindo...
                                          para longe...
                                                                                  serenamente...
Como se enchesse o soprinho tísico do José.

Cai cai balão!

A molecada salteou-o com atiradeiras
                        assobios
                        apupos
                        pedradas.

Cai cai balão!

Um senhor advertiu que os balões são proibidos pelas posturas municipais
 
Ele foi subindo...
                         muito serenamente...
                                                     para muito longe...
Não caiu na Rua do Sabão.
Caiu muito longe... Caiu no mar - nas águas puras do mar alto.


(Manuel Bandeira)

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