5 de nov. de 2022

Benesse (Hoje Eu Acordei)

 
Quem é esta força?
O que são os outros?
Como assim "parar de procurar"?

"A memória é o castigo e a dádiva da vida."
 
Vermelho, verde e azul, no meio de tudo, ao redor e por entre todas as coisas das coisas... Resolvi não tomar os medicamentos hoje, as mãos voltaram a suar no primeiro despertar, acordei ainda com o perfume de seus seios cândidos.. Acho que não faz mal... se eu decidir continuar... Uma violência cósmica de conhecimentos intrusos e atinge como um beijo famigerado pelo próprio material sem deixar-me fora do bálsamo tecido pela fé que alimento com o atrevimento de mil demônios adentrar éden e essência, o sabor das luzes é alto, adoro o movimento das tentativas e as conquistas são perigosamente escorregadias. Poeira de sons, paredes que rodopiam fora da rodovia da via que láctea. Assobios debaixo dágua penetrando as frestas do silêncio, silêncio dançando junto fora dos olhos. Deus me segura feito pipa e a linha é cheia de cola-madeira, limalha de ferro e vidro moído e o vento que sopra deixa agitada a chilena, contemplamos o sangue e a neve. A Febre voltou com a tempestade. Mas as tempestades passam... 

Evite apaixonar-se por tempestades.


(Cássio D. Versus, 2022)

27 de out. de 2022

(voltando)


Poesia não é para compreender
mas incorporar.
Entender é parede.

(Manoel de Barros)

6 de out. de 2022

Cadela Rosada (Rio de Janeiro)

 
Sol forte, céu azul. O Rio sua.
Praia apinhada de barracas. Nua,
passo apressado, você cruza a rua.

Nunca vi um cão tão nu, tão sem nada,
sem pelo, pele tão avermelhada…
Quem a vê até troca de calçada.

Têm medo da raiva. Mas isso não
é hidrofobia — é sarna. O olhar é são
e esperto. E os seus filhotes, onde estão?

(Tetas cheias de leite.) Em que favela
você os escondeu, em que ruela,
pra viver sua vida de cadela?

Você não sabia? Deu no jornal:
pra resolver o problema social,
estão jogando os mendigos num canal.

E não são só pedintes os lançados
no rio da Guarda: idiotas, aleijados,
vagabundos, alcoólatras, drogados.

Se fazem isso com gente, os estúpidos,
com pernetas ou bípedes, sem escrúpulos,
o que não fariam com um quadrúpede?

A piada mais contada hoje em dia
é que os mendigos, em vez de comida,
andam comprando boias salva-vidas.

mesmo é vestir alguma fantasia.
Não dá pra você ficar por aí à
toa com essa cara. Você devia

pôr uma máscara qualquer. Que tal?
Até a Quarta-Feira, é carnaval!
Dance um samba! Abaixo o baixo-astral!

O carnaval está cada vez melhor!
Agora, um cão pelado é mesmo um horror…
Vamos, se fantasie! A-lá-lá-ô…!


(Elizabeth Bishop)
 

A Arte de Perder


A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subsequente
da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério.

(Elizabeth Bishop)

22 de abr. de 2022

Sadie

 
The Path is within your own blood
Your must walk it alone
The scripture is written in your soul
Go forth in darkness.

THE FEEDING COMMENCES TONIGHT.

(Rise, 2007)