1 de jul. de 2024

Réquiem para um Desconhecido

 

À medida que o sol se erguia em um esplendor oculto e sangrento, tingindo a paisagem com suas garras sujas de uma vida alheia que se fora, flamejantes, uma figura solitária avançava pela areia imunda daquela praia deixando um rastro de sombras e desespero subliminar em seu caminho, cada grão de areia seria testemunha da frieza calculada e rebelde. As ondas do mar cúmplices eternas murmurando segredos do mar que a terra esconde a sete palmos. O céu com seu vasto azul se torna tapeçaria celestial estendendo-se infinitamente. Água poesia quebrando na orla oferecendo um réquiem melancólico para a alma perdida envolta no fardo alienado - um corpo inerte, cadáver cujas últimas respirações haviam sido sufocadas pela minha escuridão devoradora.
Seria este inverno o túmulo gelado e silencioso que tanto pedi a vida inteira? Achei que seria menos confortável, minhas mãos trêmulas porém resolutas lançam roupas e objetos à mercê do sal molhado, que, ávido, os envolve e arrasta provas contra seu malfeitor. A culpa é privilégio das vítimas, líderes precisam orar com sangue seco nas mãos e agradecer ao horizonte, que se pinta de laranja e púrpura, pela maldade sucinta que prega sem consequências - sinto o olhar do mistério invisível me respirar e o ar quase me acaba por pouco.

Antes louco que padecedor.


(D. Versus, 2007)

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