10 de jul. de 2024

centésimo nonagésimo segundo dia


Demônio: (com um olhar perdido) Por que existo, afinal? Qual o propósito de uma entidade como eu, condenado à escuridão e ao caos pérpetuo?

Deus: (sereno, mas conciso) Lembras-te, meu caro, de que tu foste um anjo, uma criatura de luz e pureza. O teu ser não se limita aos chifres e à escuridão que agora carregas.

Demônio: (com um tom de desdém misturado à dor) Um anjo... isso parece uma memória distante, quase uma miragem. Como posso ter fé nas minhas asas quando tudo o que vejo são sombras e sofrimento?

Deus: (aproximando-se com compaixão) A fé não nasce da evidência, mas da confiança. As tuas asas estão aí, ocultas sob a tua própria descrença. A luz e a sombra são partes de um mesmo todo, não há criação sem destruição, nem redenção sem queda.

Demônio: (confuso, mas intrigado) E se a minha essência for realmente o descontrole? Como posso transcender aquilo que sou?

Deus: (sorrindo suavemente) O caos é apenas uma parte do universo, assim como a ordem. Tu tens o poder de escolher. Lembras-te, as asas que te foram dadas não desapareceram, apenas se dobraram sob o peso da tua própria dúvida. Desdobra-as, abraça a tua dualidade e encontrarás a verdadeira liberdade.

Demônio: (refletindo) Então, a fé em minhas asas é a chave para transcender minha própria escuridão?

Deus: (afirmativo) Exatamente. Fé nas asas que uma vez te elevaram e podem fazê-lo novamente. Não deixes que os chifres definam quem és, pois eles são apenas uma faceta de um ser muito mais vasto. A verdadeira essência é a possibilidade infinita, a escolha entre luz e sombra.

Demônio: (com um novo brilho no olhar castanho) Talvez... talvez haja mais em mim do que eu me permiti ver. Talvez eu possa encontrar um caminho, mesmo que seja feito de fragmentos de luz entre as penumbras.

Deus: (com um olhar de orgulho) Esse é o espírito. Lembra-te, não é a natureza da tua existência que te define, mas o que escolhes fazer com ela. A tua jornada é a tua redenção.


Do livro "Contam os Dias".
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