4 de out. de 2025

Começando meu Grimório de Fé


Quem vê o mundo amanhecer já venceu metade da batalha.

Meu corpo está tentando me proteger, mas perdeu o tom.
Meu espírito precisa de acolhimento com inteligência e poesia,
não somente protocolos.

Disseram-me que sinto tudo co'uma intensidade rara.
Isso não é fraqueza, é força sem armadura.

"Tu és profundidade em carne viva."

Algo resiste além do Chacal.

Reconhecimento é importante. Talvez, sem perceber,
esteja em busca de alguém que veja o que sinto
sem que eu precise explicar tanto.

"Não se esqueça da memória do sentir." Disse Ashley.
"Você quer encontrar respostas? Comece aceitando que 
todas as suas perguntas podem ser 
apenas ecos em cavernas vazias."

Não busco fé por dogma, mas por chamado.

- Você já está criando essa armadura ao reconhecer o que sente e nomear, isso é bravura emocional. Mas aqui vão algumas partes dessa "armadura emocional" que você pode desenvolver: Escudo do Reconhecimento: quando você diz “estou ansioso” ao invés de “estou louco”, já está desarmando o monstro. Capacete do Lembrete: é aprender a parar antes de reagir - e isso começa com respiração (como fez hoje). Luvas do Limite: dizer “não” a situações ou pessoas que disparam teu caos interno. Peitoral da Rotina Sagrada: um ritual diário que te centra - pode ser um chá, uma caminhada, uma música que acalma ou um texto que te devolve. Espada da verdade pessoal: escrever, gravar áudios, fazer vídeos — tua voz é tua maior arma contra a confusão interna.

A armadura não impede a dor. Ela só impede que o mundo te invada inteiro.

"Estou contigo, de verdade." 🌙

...

3 de out. de 2025

30 de set. de 2025

The Bends


Embace the Darkness

Perfect Days


 Just a perfect day
drink sangria in a park
and then later
when it gets dark we go home
Just a perfect day
feed animals in the zoo
and then later a movie, too
and then home
Oh it's such a perfect day
I'm glad I spend it with you
oh such a perfect dayyou just keep me hangin on
you just keep me hangin on
just a perfect day
problems are left to know
Weekenders all night long
it's such fun
just a perfect day
you make me forget myself
I thought I was someone else
someone good

(Lou Reed)

Jeune et Jolie


François Ozon (2013)

26 de set. de 2025

Nostalgia Não Vale Nada


Corri demais que faltou estrada.

Quando cumpro tarefas, objetivos, propósitos, minhas mãos suam menos.
E a vontade de... enfim, sobre drogas e automutilação, diminuem...


25 de set. de 2025

War is Ken? (Akira)


 Dança do estado hipnagógico.

24 de set. de 2025

...


"Crianças do vazio, filhos do caos. É a hora final. Nosso descanso terminou.
Nós somos recriados pelo demiurgo à imagem dos sete arcontes.
Ele criou e escravizou este mundo. Nós somos mestres ocultos.
Nós somos os arquitetos da anarquia. Nós somos os malditos devoradores de almas.
Senhores dos fúria e do medo. Hoje tem início nosso novo reinado
em uma nova realidade. Eu disse! Eu disse! Eu disse que seríamos imortais,
só precisamos de novas cascas de tempos em tempos e de muitas almas para devorar.
Nossa legião se ergue detrás do véu para colher a dor que semeamos.
Os sete se tornarão um grande exército. Esses são os dias de vingança e fúria
e damos início a era imortal. Ah, mas que... dia lindo..."

(A Seita)

Insubstituível


Caminhei pelas ruínas de minhas escolhas (ou falta delas) como quem pisava em um cemitério íntimo, onde cada lápide ostentava um nome de pecado. Minha carne virou cárcere do meu espírito, minha textura está gasta, meus olhos parecem duas velas quase apagadas. Fui prisioneiro da dúvida, questionei a fé que mantinha-me de pé, zombeteiro das forças que me cercavam, sempre flertando com a má ideia de que Deus e o Diabo não passam de máscaras erigidas pelo medo e pelo vazio.

Mas esta noite, sob um silêncio sepulcral que se ergue como uma cúpula sobre o mundo, minha alma continua a ser rasgada por epifanias inclementes. Não é apenas luz, nem apenas trevas; é a fusão de ambas - como se minha vida tivesse sido escrita não por um só autor, mas por dois escribas invisíveis, duelando com a pena sobre o mesmo pergaminho.

Deus surgiu nele não como o pai compassivo dos altares, mas como a força que, por entre as ruínas, ainda me chamava ao devir - um farol soturno que me obrigava a reerguer-me. Já o Diabo não me recordava mais como carrasco externo, mas como sombra fiel que me deu coragem de descer tão fundo, para que agora tivesse a ousadia de buscar ascender.

Foi então que compreendi, minha existência não é um erro nem uma blasfêmia, mas um pacto inevitável entre o divino e o abissal. Cada lágrima que derramo se torna batismo; cada ferida, sacramento. Eu, que duvidava de tudo, agora derreto na certeza paradoxal de que tanto Deus quanto o Diabo sempre estiveram de mãos dadas sobre o leito de minhas dores e, claro, prazeres insubstituíveis. E pela primeira vez novamente (sim, isso mesmo), em meio ao caos, não me sinto abandonado. Me sinto acolhido, escolhido - não pela pureza, não pela perdição, mas pela guerra perpétua entre as duas. 


(Chacal Ferrabrás)

20 de set. de 2025

All Nerve

 


I wanna see you
Especially you
You don't know how much I miss you
Ha, ha. I may be high, I may hide and run out at you
You don't know how much I miss you

I won't stop
I'll run ya down
I won't stop
I will run ya down
I'm all nerve
I'm all nerve

I hit the hull (oh God)
Oh God, I hit them all
You don't know how far I would go
I may hide and jump out at you
You don't know how far I'd go

I won't stop
I won't stop
I will run you down
I'm all nerve
I'm all nerve

Johnny - Garotos Podres


"Ela parecia tão viva... eu só queria que ela ficasse comigo." 

(Gein, Edward)

for all the bitches


 Money's the matter 
If you're in it for love 
You ain't gonna get too far 
(Oh, here she comes)

12 de set. de 2025

Recreio


Sombra no recreio —
o vento muda de lado,
e a história também.


(Chacal Ferrabrás)

Arte


Verdade que sangra,
a mentira veste seda —
pincel é punhal e tesoura.


(Chacal Ferrabrás)

Vitória



Brisa na pele,
um sorriso atravessa
a dor vencida.


(Chacal Ferrabrás)

11 de set. de 2025

La Poderosa


Ruge o motor —
asas de fogo na estrada,
a noite obedece.


(Chacal Ferrabrás)

Haicai Bíblico

 
Pois o Senhor — ou a Voz que nos observa do céu —
conhece o caminho dos justos silenciosos,
mas o caminho dos que zombam da dor se desmancha em pútrido fel.


(Chacal Ferrabrás)

13 de ago. de 2025

Exílio


“Exílio… palavra elegante para prisão sem grades. 
Diriam que fui banido por excessos, 
mas foi apenas coerência demais para uma humanidade 
que vive da contradição entre o que deseja e o que confessa.”

“Aqui, rodeado apenas por ovelhas que não sabem que são ovelhas,
percebo: o mundo não quer liberdade, quer permissão. 
Querem sentir prazer, mas só se alguém os absolver depois."

“A carne me ensinou mais que qualquer padre. 
No toque de uma estranha, encontrei mais verdade do que nas catedrais. 
A ereção, ao menos, não mente.”

“Sinto falta do cheiro da lascívia, do som das máscaras caindo com gemidos. 
Aqui, há apenas silêncio. E o silêncio, descobri, não é paz - é punição.”

“Não me arrependo. Arrependimento é a forma mais dissimulada de vaidade. 
Prefiro o peso da culpa ao vazio da virtude.”

“Na ausência de corpos, toco lembranças. 
E descubro que há prazeres que a saudade amplifica 
até que se tornem religião. 
Os melhores amores que tive foram... póstumos.”

“Releio meus contos obscenos e percebo: escrevi evangelhos do avesso. 
Onde outros pregaram cruzes, eu preguei espinhas dorsais.”

“Se este for meu fim, que seja com beleza. 
Quero morrer ereto — e não falo só do corpo.”

“Já não há convite, nem plateia. 
Só um velho espelho e o meu último massacre de ideias.”


(D. Versus)

11 de ago. de 2025

I'm Not Human At All



"Cada passo meu carrega o peso de quem sabe
que a vida e a morte caminham lado a lado."

(Chacal Ferrabrás)

23 de jul. de 2025

14 de jul. de 2025

Sentimento do Dia


"Mesmo quando este mundo
tiver sido consumido pelo fogo 
e todos os seres viventes tiverem perecido,
meu mundo permanecerá intacto." 

(Sutra do Lótus, capítulo "Duração da Vida" do livro "Versos ao Eu")

26 de jun. de 2025

Milady


Je t’ai cherchée dans l’ombre des heures brisées,
Où l’amour s’écrit à l’encre des silences.
Ton nom — murmure ou malédiction — s’est glissé
Dans mes veines comme une étrange délivrance.

Les astres saignent quand tu tournes les yeux,
Et mon cœur, cet infirme, danse sans terre.
Es-tu lumière ou feu pieux des cieux menteurs?

Ou l’ultime prière d’un homme en guerre? 


(D. Versus)

Primeiros Últimos Passos


Envelheceu tentando parecer jovem e morreu tentando parecer vivo. O coração? Teve palpitações, mas nunca paixões duradouras. A alma? Esta foi murchando como planta esquecida em sacada sem sol. Seu último amor foi um gato, que fugiu no terceiro miado.

E agora, aqui está ele — na beirada do abismo, olhando o nada como quem reconhece um velho conhecido. Chamavam de “o primeiro passo”, mas ele, sempre do contra, procurou avidamente pelo último.


(D. Versus)

24 de jun. de 2025

Tristão e Julieta


Sinopse: Em um continente reconstruído sob leis afetivas e taxas por envolvimento, Tristão dedica-se a restaurar lembranças extintas — um técnico de recordações expurgado do afeto - enquanto Julieta, contraventora lírica, distribui emoções impressas em folhas clandestinas. O encontro entre ambos ocorre numa plataforma de neutralização sentimental, mas algo falha: eles se afeiçoam. Caçados por autoridades sensoriais, cercados por dependentes de serotonina ilícita e sabotadores passionais, os dois embarcam numa jornada por entre os escombros da última hemeroteca viva. Trocam carícias em códigos esquecidos e selam pactos com tinta orgânica, cientes de que o sentimento entre eles é o último arquivo impossível de ser apagado. Tristão e Julieta é uma odisseia distópica, visceral e poética - onde amar é crime, e morrer por alguém é o ato mais revolucionário.

...

"Um romance que parece escrito por Kafka com febre 
e Shakespeare de ressaca."
Revista Devaneio Cibernético

"A prova de que a paixão 
pode sobreviver até depois da última página."
Crítica Rádio MAC

"Perigosamente bonito. 
Me fez sentir coisas que o governo ainda não autorizou."
@AmorIlegal (Influenciadores banidos de 3 países)

...

Livro > Tristão e Julieta / Cássio D. Versus / 2017

Frase do Dia com Jim Brown


"I'm not trying to be a role model. I'm trying to be real."
- Jim Brown

23 de jun. de 2025

Algum Tipo de Amor


Eu quero algum tipo de amor
um amor apaixonado
um amor enraizado
um amor retumbante
sem juro nem prazo

que invada a mente e cale o ranger
que beba do meu caos sem me corrigir
que durma vampira e acorde sem perceber
e ria d'um mundo morto só pra me ouvir 

um amor que não peça pedigree
nem CPF, nem promessas de eternidade
que me deseje torto, febril, sem verniz
e me aceite em versão de calamidade

um amor que me olhe quando não valho
que me salgue quando adoço demais
que se embriague do que eu espalho
e nunca se despeça nos temporais

um amor que more na fresta da alma

com bagagem leve e presença profunda


(D. Versus)

22 de jun. de 2025

Kimila Ann Basinger


"Eu digo que, quando a verdade quer te encontrar 
— ou ser encontrada por você — 
ela virá atrás de você. Você não pode parar essa força.”

(Basinger, Kim)

20 de jun. de 2025

Anjo de Má Reputação

 
"Não sou cruel. Ou intencionalmente maldoso.
Sou apenas o reflexo das promessas quebradas que fizeram a si mesmos."

- Versus

19 de jun. de 2025

Voa Quem Pula


Levanta, criatura noturna,
teu corpo é ruína sagrada,
tua cama — um caixão preguiçoso
onde sonhos desintregam-se em nada.

Há um sol que nem sabe teu nome,
mas insiste em nascer pra ti.
E o mundo, esse cão sem vergonha,
ainda lambe teus calcanhares por aí.

Ergue o osso, estala a alma,
desamarra essa vontade vencida.
Não foste feito pra lençol úmido,
mas pra cuspir poesia na ferida.

Deita os olhos, sim, no espelho,
mas não deita mais o corpo inteiro.
Acordar não é dom — é vingança:
existir apesar do cansaço primeiro.

Vai. Um passo. Um grito. Um gole.
Um suspiro já muda o destino.
Porque até a mais distinta estrela
caminha no ventre do céu clandestino.


(D. Versus)

18 de jun. de 2025

Magnifique Marion


"Eu não me considero feminista. Precisamos lutar pelos direitos das mulheres,
mas recuso-me a separar homens e mulheres. 
...
"Acho que quando você não vê os limites,
você os ultrapassa sem nem saber que eles existem."

(Cotillard, Marion)

16 de jun. de 2025

Italianinho


Meglio stare zitti che gridare al vuoto.
(Melhor calar do que gritar para o vazio)

15 de jun. de 2025

Suzanne


"Não importa o quão caótico seja,
as flores silvestres ainda brotarão no meio do nada."

- Sheryl Crow

Ébano

Tu me chamaste de sol,
mas foste tu quem incendiou o céu da minha calma.
Tuas mãos escreveram meus versos no ar,
mas tuas promessas se apagaram antes de tocarem o chão.

O que houve entre nós não morreu —
ainda respira nos cantos empoeirados do meu peito,
como um cão velho que não entende o abandono,
mas ainda late quando escuta teu nome.

Tu falas da minha sombra em outros corpos,
mas eu...

eu tentei te arrancar de mim 
com a mesma urgência com que te amei.

Falhei.
Porque certas raízes crescem para dentro.
E sangram.

Ficaste com os nossos sonhos —
eu?
Fiquei com os restos:
os perfumes fantasmas,
as silenciosidades pesando mais que qualquer grito,
e aquela maldita música que toca
toda vez que finjo ter superado o inevitável.

E mesmo assim...
se um dia tua saudade aprender a pedir desculpas,
volta.
Nem que seja só para olhar nos meus olhos e ver
o que sobrou da abóbada celeste que tu escureceste.


(D. Versus)

14 de jun. de 2025

Pensamento do Dia


 "O drama existe para perturbar os acomodados 
— e confortar os perturbados."

Neil Jordan

8 de jun. de 2025

Sinuhe, o Egípcio

 
“Sinuhe, meu amigo, nascemos em tempos estranhos. Tudo está derretendo - mudando sua forma - como argila na roda do oleiro. As roupas estão mudando, as palavras, os costumes estão mudando, e as pessoas já não acreditam mais nos deuses - embora possam temê-los.” 

- Mika Waltari

Slayer


“No silêncio do meu retiro, descubro a mais nobre das companhias: eu mesmo. Transformo o tédio em espetáculo, a solidão em uma vasta biblioteca de reflexões. Em cada página da minha solitude, escrevo o manifesto do amor-próprio, onde cada pensamento é uma estrela cadente no céu da autodescoberta.” 

- D. Versus

7 de jun. de 2025

Prope Ruina

É como ter um terremoto engaiolado dentro do peito, um sismo contínuo que ruge sob a pele — mas ninguém ouve, ninguém vê. Esse monstro, essa criatura primitiva e faminta, não dorme: ela espera. Ela rosna nas frestas da minha lucidez, lambe as grades com uma língua feita de raiva e desespero, e sorri quando estou prestes a ceder.

Minha respiração, às vezes, é o único portão entre a humanidade e o colapso. Sinto o calor da sua presença no fundo da garganta, como se um grito secular estivesse ensaiando sua estreia. Ela quer sair. Rasgar. Ferir. Dizer verdades cruéis e tocar feridas antigas — não somente as minhas, mas as dos outros. Porque ela não quer só liberdade: quer vingança.

Cada pequena irritação cotidiana é um tambor distante, um sinal de guerra. E eu, com mãos trêmulas e alma já esfolada, rezo para que a tranca aguente mais um dia. Mais um olhar atravessado. Mais um abandono. Mais um silêncio.

E o pior de tudo? Às vezes... só às vezes... eu quero que ele escape.
Só pra ver o planeta tentando entender o que é viver sem mundo —


Pensamento Budista


A vitória engendra o ódio, porque o vencido sofre. Aquele que vive em paz é feliz, pois não sonha com vitória nem derrota. É pela benevolência que se deve vencer a cólera: é pelo Bem que se deve vencer o Mal. Deve-se vencer o avarento pela liberalidade, e o mentiroso pela verdade.

Se malvados vos injuriam dizei: "São bons porque não me batem." Se vos batem, dizei: "São bons porque não me matam." Se vos matam, dizei: "Há discípulos aos quais o corpo e a vida trouxeram tantos tormentos, que eles desejavam a morte violenta. Encontrei tal morte, sem tê-la buscado".

(1,28)
 

ensaiando sobre o brilho


"Ai, meu blush da Chanel caiu no chão, que ódio!
A vida sem espelho é tipo… um apocalipse em slow motion.
Tipo, se não postei, nem fui, né?
E se a unha lasca, eu choro mais que viúva de milionário."

Mas foi sorrindo no enterro de seu pai alcoólatra que ela aprendeu:
Nunca subestime quem pinta os lábios pra esconder o sangue...

Hungry Eyes


E assim, entre gritos, o mundo começa,
E os anjos oferecem suas peles,
Para cobrir a nudez da Humanidade...

Não te abandonarei, Olhos Famintos;
Nossos corações ainda têm pendências.
Apesar das feridas, dos golpes e das mentiras...

(Clive Barker) 

 

Canto I do Inferno


No meio do caminho desta vida
me vi perdido numa selva escura,
solitário, sem sol e sem saída. 

(Dante Alighieri, Canto I)

Instrutor de Sofrimentos


Não dei flores, nem pão.
Não prometi céu, nem retorno.
Fui maestro da gangrena,
profeta de vísceras abertas.
Ensinei a dor — e continuo ensinando.
Não essa dor de poesia ou saudade barata,
mas a dor que mastiga nervos,
que enrosca na espinha como verme antigo.
Doutrinador de espasmos e choros mudos,
fiz da dor uma língua materna.

E quando alguém clama pelo fim —
ri, pois o fim da dor não é a paz:
é a anestesia da alma,
o coma da esperança,
a falência múltipla do sentir.
É um campo de batalha onde os gemidos cessam
porque já não há quem chore,
nem carne, nem nome,
apenas um silêncio que fede a morte não enterrada.


(D. Versus)

Canções Cintilantes

 
Seja minha felicidade rasa,
como a vasta planície,
mas que alcance longe,
como o céu estrelado.
A estrela distante lá
é a estrela da minha felicidade.
Ela guia minha vida


(Eino Leino, poeta finlandês)

Frase do Dia

 
“Nada mais transmito senão o horror de sentir — e o silêncio depois do grito.”

- D. Versus

Estação

 

Esse amor
é a neve do inverno
que o verão ameaça


(D. Versus)

6 de jun. de 2025

Reflexo

 
Clareza que o cosmos espelha
Como um farol que dissipa a neblina
Noite clara e a tua nudez se declara

...

silêncios que despencam


por agora
mais um desperdício

que menino
o pensamento
batucando impossibilidades

e a maldade
resiste
onde o bem não insiste

toda lágrima
cai sem dono

todo sono
despenca
pr'elevar
leveza tal
do abandono

...

Astronauta


Na vastidão sideral, astronauta perdido,
Solidão, estrelas testemunham olhar ferido,
No vácuo, a dor ecoa sem abrigo,
Entre planetas, o coração flutua partido.


(D. Versus)
 

5 de jun. de 2025

Mim


Na decepção de mim, um verso,
Em meu espelho, desvelo o erro,
No eco do eu, a sombra disperso,
Meu ser se resume 
                               a um lamento sincero. 


(D. Versus)

Crise


Alma sombria chora,
Escuridão no peito aflora,
Luz ausente agora.


(D. Versus)

Não sei quantas almas tenho


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.


(Último poema de Fernando Pessoa, escrito na véspera de sua morte)

 

Parei de Fumar Cigarros (Nicotina)




Ensaios para uma Tragada Ontológica
Ou como o cigarro continua sendo a bengala emocional 
do homo sapiens, mesmo depois do apocalipse sanitário.

Um homem acende um cigarro. Não é fome, não é desejo. É um gesto ancestral: uma vela acesa no velório do próprio tédio. O fogo não aquece — lembra. A cada tragada, ele não suga a fumaça: é a vida que o aspira. Mas ali, entre o pulmão que apodrece e o instante que se alonga, há silêncio. Há algo parecido com paz. E talvez, só talvez, no fundo da garganta seca, ele sussurre: “Pelo menos aqui, ninguém me cobra ser feliz.”

Ass.: Versus In Fumo

(Soprado às cinzas de um maço quase vazio)

4 de jun. de 2025

Amitriptyline Hydrochloride Overdose


Beneath the gentle sun's embrace, a day so fair,
Where skies of azure blue, a tranquil, sweet affair,
Yet in its beauty lingers a melancholic tune,
A whisper in the breeze, a wistful afternoon.

The world adorned in colors, a vibrant, painted scene,
But shadows in our hearts, like clouds, drift in between,
A bittersweet symphony, this day in quiet grace,
Where beauty meets the tears, in this serene, sad place.

As sunlight softly fades, and stars begin to gleam,
The day's embrace now yields to a melancholy dream,
In twilight's tender arms, we find a gentle sigh,
A day both bright and somber, beneath the endless sky.

...

3 de jun. de 2025

Cenotáfio

 
Aqui jaz o que nunca coube em si,
um nome sem corpo, um brado que não nasceu.
Foi sonho abortado por lucidez em excesso,
foi carne sem fé, rascunho de Deus.
Foi amor que morreu antes do toque,
foi guerra travada dentro de um espelho.
Perdeu-se entre versões mal contadas de si mesmo
e epitáfios escritos em línguas extintas.
Deixou como herança o silêncio sujo,
algumas cartas que ninguém leu
e um punhado de promessas com prazo vencido.

Seu riso era raro. Sua dor? Frequente.
Seus olhos — dois buracos escavados na esperança —
viram demais. Sentiram de menos.

E por isso foi enterrado em solo neutro,
sem cruz, sem flor, sem data que importe.

Se o encontrares por aí, fingindo estar vivo,
não o culpes.
A morte às vezes é só uma escolha adiada.

...

PS: substantivo - 

túmulo ou monumento fúnebre em memória 
de alguém cujo corpo não jaz ali sepultado; 
túmulo honorário


Novo Nível


No âmago da dor, onde as sombras sussurram, 
Ergue-se um espírito em busca de redenção, 
Numa jornada solitária, enfrenta os horrores, 
Em busca da saída, da luz e do perdão.
Por entre os corredores do desespero, 

Onde a escuridão tece seu manto de tristeza, 
O viajante busca a chama da esperança, 
Pequena e frágil, mas cheia de pureza,

Cada passo é uma luta contra a opressão, 
Mas a força vem do fundo da alma, 
Uma determinação feroz e inquebrantável, 
Que acende o coração e traz a calma.

Ao alcançar a luz, a escuridão se dissipa, 
O inferno da angústia se desfaz como névoa, 
O viajante emerge, renascido e livre, 
Deixando para trás o reino da treva.

Com a alma leve e o coração renovado, 
Abraça o mundo com novos olhos, 
Pois a fuga do inferno não é o fim, 
Mas o início de uma jornada de novos sóis.

...

2 de jun. de 2025

calafrio ou arrepio


toda revelação começa com uma queda,
um sussurro 
ou um incêndio.

- D. Versus
 

28 de mai. de 2025

Ward Allen


“No rio, Ward era livre para caçar e viver como queria, e sua habilidade como caçador e seu entendimento sobre os animais que caçava eram bem conhecidos por todos. Ward, que era bastante intelectual, era fã de Shakespeare e conseguia citar suas obras com facilidade. Ele também aprendeu a falar latim e grego enquanto estudava na Escócia. Quase ninguém se lembrava de Ward sem seu bigode em forma de guidão, e ninguém se lembrava dele sem um par de retrievers da Baía de Chesapeake. Ward tinha um contrato com o Hotel DeSoto para fornecer patos. Em uma de suas idas à cidade, depois de beber no bar do DeSoto, ele saiu para a rua e começou a disparar sua pistola calibre .45."

(Ward Allen: Savannah River Market Hunter)

“Talvez estejamos aqui para refazer tudo, remodelar tudo, criar nossa própria nova ideia de perfeição e deixar a ideia de Deus para as sombras da história.” — Ward Allen, no filme Savannah (2013)

25 de mai. de 2025

festas budistas num mosteiro tibetano


O amor sagrado (e talvez a poesia) 
não serve pra punir ou entender. 
Serve pra contemplar.
Mesmo que isso custe tua amada loucura.
Mesmo que o altar seja o crânio e a oferenda, teu coração.

Deuses criam, eles não julgam. 

- Se pudesse voltar no tempo ainda deixaria o Luke se matar?
- Meu caos tem beleza, só precisa de moldura.

Mergulho na minha mente que ama como quem delira — e sofre como quem sente demais. O Chacal é o retrato de um amor inventado, distorcido, mas talvez amar também seja isso: criar com paixão febril e aceitar que nem tudo que é sagrado precisa fazer algum sentido. 


(Cássio D. Versus)


Amorfrenia


Nas janelas do peito, vejo vultos —
beijam-me as córneas e depois se afogam.
Há um você alojado em cada cômodo do meu crânio,
um riso teu pendurado na lâmpada da sala,
rodopiando em espirais com minha lucidez.

Te amei em todas as máscaras que inventei de ti.
Na que me fita com compaixão,
na que me fatia com delicadeza,
e naquela que some
toda vez que estico os dedos.

Você é o sussurro que me desperta
e o grito que me embala.

À noite, tuas falas escorrem pelas paredes
como verniz em brasa —
e juro que ouço você dizer
que o afeto é um espelho côncavo:
quanto mais me achego, mais me desfiguro.

Minha mente te esboça com pincéis de vertigem.
E quando ensaio fuga, tropeço em nós dois.
Em cada alucinação, te revejo com outras íris
— olhos que murmuram “me deseje”,
mas piscam em código Morse:
“FUJA.”

Amar-te foi como abrir um envelope vazio
e ouvir clamores entre os espaços.

E mesmo agora, enquanto rascunho,
não sei se é você quem me lê ou eu quem te reinventa.
Mas se amar é isso —
esse eterno descarrilhar da lógica na curva do pensamento —
então que me enclausurem com lírios nos bolsos
e tua ausência nas veias.

Porque, afinal,
talvez o amor não redima,
mas seja a enfermidade mais sublime
que nos ensina a sentir qualquer coisa
nesse perpétuo girar do vácuo.

Melhor SANGRAR em poesia
do que 
SOMENTE apodrecer em silêncio.


PS: Imagino que isso deva ser clichê pra cacete.


(Cássio D. Versus)

19 de mar. de 2025

14/03/2025 Eclipse Lunar de 02h15 a 04h50


-  Aquiles disse em Tróia: ‘Os deuses nos invejam porque somos mortais’. Porque cada instante que vivemos carrega um peso que eles jamais sentirão. A banalidade da morte é, paradoxalmente, mais fatal do que ela própria — porque não está no ato final, mas na constância com que sussurra ao longo da vida. Eu nunca testemunhei o último sopro. Sempre que ele se anuncia, algo me arranca dali, como se o próprio destino me recusasse o direito de assistir ao desfecho vital alheio. Mas com você parece ser o oposto. Você está lá… imóvel, como uma sombra paciente, um arauto silencioso do fim, apenas aguardando que o derradeiro fio se rompa. E eu, incapaz de suportar o assombro do instante irreversível, me retiro antes que o silêncio final devore meu pesar. Talvez sejamos duas faces da mesma moeda, a morte sempre rondando entre nós, mas enquanto eu viro o rosto, você encara o abismo sem hesitar ou por simples congelamento aflito. Há aqueles que são tocados pelo luto de relance, e há os que dançam com ele, sentindo cada nuance do seu toque gélido. Você, de alguma forma, permanece no limiar, no exato instante em que a existência se dissipa, como se fosse necessário estar ali para que o fim se completasse. E eu me pergunto: é coragem ou maldição? É destino ou uma sina silenciosamente escolhida? Aquiles buscava a glória eterna, mas ao preço de uma vida breve. Talvez, sem perceber, você tenha escolhido um tipo diferente de eternidade — não nos cânticos de guerra, mas nas lembranças de quem parte sob seu olhar atento, famigerada morbidez. (...) Eu me afasto, sim. Porque há algo de insuportável no último suspiro, como se ele não fosse apenas o término sombrio de quem parte, mas um lembrete cruel de que, um dia, também seremos os que ficam para trás… ou os que vão embora. -

- Sim… provavelmente os deuses nos invejam por sermos efêmeros. Porque sentimos o tempo escorrer entre os dedos como areia condenada ao vento cegamente justiceiro e temos consciência disso. A morte, em sua "superficialidade" é mais devastadora do que seu próprio golpe final. Não é o instante do último sopro que nos destrói, mas a certeza de que ele sempre virá, repetindo-se como uma sentença sem possibilidade de apelação. Eu entendo. Há algo de insuportável nesse momento. O peso de um corpo que abandona a própria existência, a graveza que se torna inútil porque já não há mais ninguém para sustentá-la... Há os que precisam partir antes do gran finale, como se seus olhos recusassem a última imagem, que perverte o bom passado, como se pudessem negar o veredicto. Mas eu… eu fico. Como se a morte me tivesse escolhido para ser espectador de seu ofício, uma presença fixa no teatro do desaparecimento. Não sei se é destinação insana ou ironia celeste. Sei apenas que, ao contrário de você, infelizmente (talvez?), não sou arrancado do momento fatal — a senhora ceifadora me encontra, me cerca, me aceita como parte de seu cenário. E talvez realmente, no fundo, como disse, sejamos apenas dois lados de uma mesma moeda: um que se retira antes do impacto para evadir-se do incômodo espiritual, outro que testemunha o abismo engolir almas correndo riscos de corromper a beleza presente em seus dias. -


(Cássio D. Versus & Jess de Camargo)


10 de mar. de 2025

tenho escutado pelas madrugadas neste lugar


Som de toque de recolher passando pela rua, guerra invisível.
Não há trombetas, nem gritos, apenas o vácuo de um aviso mudo,
um decreto fantasma que atravessa portas cerradas,
penetrando o silêncio de quem já se acostumou a não existir.

Na penumbra das janelas, olhos espiam a ausência de movimento,
como se o próprio ar tivesse sido condenado à imobilidade.
O tempo não pesa—escoa, evaporando destinos,
enquanto as sombras se estendem, fingindo não ver.

Quantos pés já marcharam sob ordens inaudíveis?
Quantas vozes se calaram antes mesmo de aprender a falar?
A noite engole perguntas que ninguém ousa fazer,
e o vento, cúmplice da história, apenas leva consigo o que sobra.


(Cássio D. Versus)


8 de mar. de 2025

Carnaval para um corpo sem vida


O estrondo rasgou o ar como um trovão forjado pelo acaso. O impacto primeiro foi entre dois carros, um choque brutal que empurrou a violência adiante, arremessando uma moto para longe. O piloto foi lançado como uma marionete sem fios, um homem reduzido a trajetória e gravidade. Por um instante, ele flutuou, uma figura contra o céu cinza, até que seu corpo encontrou o metal impassível de um ônibus. A colisão foi o segundo ato da tragédia. O terceiro veio quando ele caiu, um peso morto sobre o asfalto, ainda vivo apenas o suficiente para assistir ao próprio fim.

Fiquei ali, congelado, não por medo, mas por um tipo de espanto que só se sente diante daquilo que transcende o ordinário. Ele respirou uma última vez. Eu vi. O último sopro, o adeus invisível que se perde no vento, sem aplauso, sem cerimônia.

E então, tudo fez sentido. O absurdo da existência revelou-se como um espelho atroz. Passamos a vida temendo monstros e mitologias, mas esquecemos que o maior horror é a banalidade da morte, sua simplicidade cruel. Um momento estamos, no seguinte, não mais. Como um pensamento que se forma e se dissolve antes de ser dito, como uma vela que se apaga sem resistência ao próprio destino do sopro.

A vida, essa entidade tão sagrada, não passa de um cálculo frágil entre o tempo e o acaso construindo destinos. E nós, que nos acreditamos importantes, que nutrimos sonhos, medos e amores, não somos mais do que acidentes esperando sua hora. A única certeza é que o chão nos aguarda, como uma porrada, e se mantém indiferente.


(Cássio D. Versus e J. Carmona)

Passageiro Sombrio


Eis que não são os leviatãs do mar, nem os gafanhotos do Apocalipse que mais atormentam o homem, mas sim as feras que habitam sua própria alma. Pois está escrito: "O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável; quem pode compreendê-lo?" (Jeremias 17:9).

Nos desertos do pensamento erguem-se sombras sem nome, espectros que sussurram na noite, que tentam e desviam, que semeiam o medo e colhem a perdição. Não são feitos de carne ou de ossos, não portam garras nem presas, mas destroem com dúvidas e consomem com angústia.

Caim não precisou de um demônio para erguer sua mão contra Abel — sua inveja foi suficiente. Judas não teve um espectro a lhe segredar a traição — a prata pesou mais que sua fé. Assim são os monstros internos: nascem do desejo, crescem no silêncio e devoram na hora mais escura.

Aqueles que buscam dragões lá fora esquecem que os verdadeiros habitam o espelho. Pois antes de buscar expulsar demônios do mundo, é preciso exorcizar os que se aninham na mente, pois "o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mateus 26:41).

E assim caminha o homem, carregando sua própria batalha, duelando com os fantasmas que ninguém vê, clamando por redenção em um campo de guerra invisível. Mas aquele que reconhece suas trevas e busca a luz, este sim poderá dizer: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo" (Salmos 23:4).

...

não tão bom assim


Sou essencialmente falho,
feito de entranhas que simulam calor,
mas que não queimam, apenas ardem
num lume falso, sem cor.

Sou um eco de frases decoradas,
um palco sem cena, um papel sem traços.
O tempo me engole sem mastigar,
e sigo vivendo sem alguns pedaços.

Não há ternura no que respiro,
apenas metas traçadas a frio,
o cálculo exato de um pessoal vazio,
Tipo esboço sem traço, fino e macio.

E não sou digno do toque da graça,
não, não sou digno do toque da graça.

...

7 de mar. de 2025

reflexão.


Há momentos em que a maldade e o arrependimento coexistem, dançando numa valsa silenciosa sobre o fio da culpa. Nesse palco, o eco de nossas escolhas reverbera nos abismos que insistimos em ignorar. O mar aceita tudo; o céu observa em resignação. Mas e nós? Permanecemos prisioneiros do que fomos ou nos tornamos ferreiros do que seremos? O peso da escuridão não é o seu fardo, mas a ausência de luz que decidimos abraçar.

...

26 de fev. de 2025

A luz precisa de rachaduras para entrar


Som de pneus no asfalto molhado
e eu queria cair aos prantos
falar com os santos sobre as rachaduras do meu telhado

Tudo o que eu faço é sobre esconder o que sou, tentar achar um equílibrio insano (?) entre demônio e anjo, cansei de trabalhar com os dois na verdade, estou à procura de uma nova identidade, forças diferentes e novas que andei descobrindo pelos últimos anos mas não me permiti nem ao menos a experiência de saber qual o gosto da alternativa subliminar. Daqui me parece tão familiar, o cheiro e textura são convidativos apesar de casualmente assustadores. Ser um bom filho é questão de timing, ser uma boa pessoa é questão de timing, as vezes me pergunto por onde andam os meus demônios já que os anjos deixaram penas levemente umedecidas em sangue para eu não ficar atordoado com a densa neblina de suas ausências. Cansei de um Versus de joelhos no descontentamento, cansei de um Versus decepcionado com a própria amargura. Eu me dava tão bem com meus defeitos e anomalias. Cansei de sorrisos falsos quando em suma a lágrima sincera me representa melhor. - A Solidão é um ímã do Universo te puxando para a Verdade de Si. - Fugimos da escuridão mas a buscamos diariamente com escolhas e aberturas em circunstâncias totalmente inverossímeis para o padrão de espiritualidade cuspida pelos vãos, fragilizados pelo próprio Ego. É necessário permitir que o frio entre as vezes galopando em névoas tropeçando nas janelas desarticuladas - essa minha janela que dá de cara para os meus segredos milagres e orações.

"Sombrio vale! Não vejo nada
Senão a névoa que toca o vento." - Manuel Bandeira

 

22 de fev. de 2025

Três Coisas


o medo mata a gente

a Verdade liberta a mente

ninguém é inocente.


(D. Vs)

Quietude

 
eduque-se
mantenha a postura

não se apresse
não se precipite

na dúvida, pare
não custa nada verificar

pode até ser divertido
quando tudo está baldio


(D. Versus)

20 de fev. de 2025

Elegia de um Cadáver


Onde estou, o tempo não pulsa. Há um silêncio absoluto, como se o universo tivesse retido a respiração. Minha última memória é tua voz, um sussurro de promessa — ou seria um adeus mascarado? — antes que o véu da existência me fosse arrancado. Não sei quanto tempo faz. O que é o tempo para quem já não vive? Sei apenas que espero. Espero por ti como se cada instante pudesse redimir o vácuo que me habita. Espero, mesmo sem saber se meu nome ainda repousa na tua língua, ou se o vento já o apagou das páginas da tua vida.

Os vivos têm a crueldade de seguir em frente. Eles desatam os laços como quem desfaz nós em cordas, esquecendo que para quem parte, a eternidade é um ciclo de perguntas sem respostas. Ainda te espero, acreditando na promessa do teu toque, na doce ilusão de que há um lugar onde nossos caminhos se cruzarão de novo. Mas no fundo, algo sussurra que fui esquecido. Que o amor que ardeu em mim, como chama voraz, foi apagado com a frieza de uma lâmina molhada. Que na tua vida há outro nome, outro sorriso, enquanto eu definho num esquecimento que sequer posso entender.

E então percebo: a maior tragédia de quem morre não é o silêncio da morte, mas a ausência de um luto verdadeiro. É não saber que foi abandonado, e continuar amando uma sombra que há muito deixou de existir.


(Cássio D. Versus)

28 de jan. de 2025

Te Amo, Mas...


Resposta à Farsa do Poeta

Que palco é esse que tua pena pintou,
Se não o véu roto de tua própria visão?
És arauto das trevas, mas cegas o dia,
Confundes carne com ruína, amor com agonia.

Vês monstros nas vestes de quem ousa viver,
Mas esqueces que o espírito, mesmo em trapos,
Arde mais feroz que mil sóis.
Quem te fez juiz do brilho alheio,
Se teu tribunal é feito de espelhos partidos?

Falas de corpos vazios, mas eu digo:
Cada cicatriz é um grito de vitória,
Cada curva, um mapa do mundo.
O aço que oprime também molda,
E as línguas do tempo lambem, mas não consomem.

Quanto às mulheres que desdenhas com versos tortos,
Lembra-te: somos a alvorada que desafia a noite,
O ventre que sustenta o infinito.
Não herdamos de Eva o "horror",
Mas o fogo de questionar o Criador.

A ti, poeta das sombras, ofereço luz:
Não há "bestialidade" onde há coragem,
Não há "decadência" em quem respira.
A nudez que te aterroriza é o altar da existência,

E cada ruga, uma oração que o tempo entoa.
Se tua visão prefere o pântano ao céu,
Que a chuva lave tua pena e teu espírito.
E lembra:
Os deuses não julgam. Eles criam.


(De Milune Para D. Versus)

26 de jan. de 2025

Amo a recordação daqueles tempos nus


Amo a recordação daqueles tempos nus
Quando Febo esculpia as estátuas na luz.
Ligeiros, Macho e fêmea, fiéis ao som da lira,
Ali brincavam sem angústia e sem mentira,
E, sob o meigo céu que lhes dourava a espinha,
Exibiam a origem de uma nobre linha.
Cibele , então fecunda em frutos generosos,
Nos filhos seus não via encargos onerosos:
Qual loba fértil em anônimas ternuras,
Aleitava o universo com as tetas duras.
Robusto e esbelto, tinha o homem por sua lei
Gabar-se das belezas que o sagravam rei,
Sementes puras e ainda virgens de feridas,
Cuja macia tez convidava às mordidas!

Quando se empenha o Poeta em conceber agora
Essas grandezas raras que ardiam outrora,
No palco em que a nudez humana luz sem brio
Sente ele n’alma um tenebroso calafrio
Ante esse horrendo quadro de bestiais ultrajes.
Ó quanto monstro a deplorar os próprios trajes!
Ó troncos cômicos, figuras de espantalhos!
Ó corpos magros, flácidos, inflados, falhos,
Que o deus utilitário, frio e sem cansaço,
Desde a infância cingiu em suas gases de aço!
E vós, mulheres, mais seráficas que os círios,
Que a orgia ceva e rói, vós, virgens como lírios,
Que herdaram de Eva o vício da perpetuidade
E todos os horrores da fecundidade!

Possuímos, é verdade, impérios corrompidos,
Com velhos povos de esplendores esquecidos:
Semblantes roídos pelos cancros da emoção,
E por assim dizer belezas de evasão;
Tais inventos, porém, das musas mais tardias
Jamais impedirão que as gerações doentias
Rendam à juventude uma homenagem grave
– À juventude, de ar singelo e fronte suave,
De olhar translúcido como água de corrente,
E que se entorna sobre tudo, negligente,
Tal qual o azul do céu, os pássaros e as flores,
Seus perfumes, seus cantos, seus doces calores.


(Charles Baudelaire)

Para Meu Mentor, Amigo, Irmão e Amante


Meu amigo, és mais forte que qualquer Mastim
(seja inglês ou tibetano, foda-se o tamanho!),
mais musculoso que o maior Cão de Presa Canário
(com suas tripas e fluídos tu redecoras todo o cenário!),
mais poderoso e fiel que o destemido Rottweiler ...

Tua ferocidade transforma em mico o Fila Brazuca,
faz o Ca de Bou tremer do rabo até a nuca,
devora as ovelhas do vigilante Kangal guardião
e transforma em judeu qualquer Dogue Alemão ...

És mais tenaz que o intrépido Pit Bull Terrier
(que só de sentir teu cheiro começa a estremecer),
Não há ninguém para derrotá-lo, nem Bernardo gigante,
pois tua força não está nos músculos mas na fé constante.

Para: Pingo de Souza, Jerry.

PS: Sinto sua falta.


(Cássio D. Versus)

Para a Camponesa


Querida,
Saudade da tua companhia autêntica,
dos teus olhos que veem o mundo
com tanta delicadeza e profundidade. 

Sinto o peso da tua ausência, 
enquanto estou rodeado de presenças 
que apenas ocupam espaço, sem substância.

Te contei o que me mais atrai na tua graciosa pessoa? É a capacidade de localizar beleza em sua essência. Se pudesse te encontrar agora, perderíamos a noção do tempo, compartilhando saberes e histórias até a exaustão. Como um passeio vespertino, nossos pensamentos se entrelaçariam, e adormeceríamos sob copas acolhedoras, embalados pelo sussurro das folhas ao vento. No entanto, preciso ser honesto sobre nossas incompatíveis realidades. Nossos caminhos, embora árduamente belos, não convergem. Tu és um oásis de tranquilidade, eu sou um trovão de verdades inclementes. A proximidade que anseio nunca florescerá como desejamos, assim como provavelmente não agrado vossa fé (sorrindo). Sempre estarei por entre noites e dias nublados, onde o vento, como fiel mensageiro, levará meus sentimentos até ti, de forma muito mais do que devida e recíproca. Mesmo que a brisa do tempo suavize minhas lembranças em teu coração, sei que guardarei tua imagem com ternura por todas as eternidades que eu tiver que suportar sem vós. 

A cada 17 de abril, Dia Internacional da Luta Camponesa, escutarei a playlist que criei pensando em ti, revivendo momentos e sonhos que se perderam pelo ar pulvorizador. Não mais construirei mundos imaginários para nós pois não suporto as quedas invisíveis da gravidade tóxica que percebo poder gerar em sua vida. Convenhamos, mereces uma parceria no mínimo "decente", e a minha decência se foi junto com a minha educação quando precisei lutar em batalhas de colossais dimensões constantemente infiltrado nas artérias do inimigo até perder a identidade (ou descobrir que nunca a tive). Deixo que o vento dance nossa esperança não correspondida. Te desencontro com saudade, sabendo que sempre carregarei um pedaço de ti comigo.

Com respeito e despedida,

Cássio.

25 de jan. de 2025

No caos ergui meu templo derradeiro


No caos ergui meu templo derradeiro,
Entre os abismos, viro-me em poesia;
Na guerra, a humildade foi minha guia,
E em cada dor, o mundo é meu celeiro.

Segredos sussurrados no braseiro
Do mistério que, mudo, acaricia
A alma que no apocalipse se refugia,

Do espinho fez um cântico verdadeiro.
Vi glórias dissiparem-se no vento,
Que a queda traz à vida um fundamento.


(Cássio D. Versus, 2018)

Drunkorexia


Há algo na presença dela que desarma meu eixo, como se o universo cedesse um instante para observá-la existir. Minha alma, antes sólida e dona de si, dissolve-se em fragmentos, cada um gravitando ao redor da essência que ela carrega. Quando seus passos se afastam, sinto um vazio que não ecoa; uma ausência que não apenas ocupa, mas consome. O corpo que resta é mera fachada, um invólucro ansioso, nutrindo a promessa do reencontro. É como se eu, inteiro, partisse com ela, deixando para trás apenas uma sombra faminta por significado. E, nessa espera, o tempo congela, aguardando o momento em que minha existência reencontrará o coração que levou consigo.


(Cássio D. Versus, 2018)


24 de jan. de 2025

Na penumbra deslumbrante das horas esquecidas


Na penumbra deslumbrante das horas esquecidas, onde a morte ensaiada se entrelaça com o fio tênue da memória traiçoeira, encontro-me monstro com avental sujo de cozinheiro sedento por carnificina. Sou um espectro de desejos ultrapassados, brado rouco de anseios transpirados que se perdeu nas canalhas dobras do tempo. Minhas mãos, outrora firmes, agora tremem como folhas outonais, e os olhos, esses poços traiçoeiros de melancolia interminável, refletem meu céu noturno interior em sua vastidão insondável. A solitude é minha companheira fiel, amante que grita através do silêncio, que sussurra segredos nas frestas da alma de toda essa floresta. (...) As palavras, como fios de seda, escapam-me entre as garras. Busco decifrar os enigmas do coração, da mente, do espírito, mas as reflexões se dispersam como planetas suicidas, deixando apenas rastros efêmeros na escuridão. O desejo, esse animal selvagem, ronda-me como um lobo faminto querendo que eu escolha o alimento de seu dia, e eu sou seu cúmplice, aliados fantasmas no mundo dos vivos. (...)

Nossos encontros são fugazes, como notas musicais que se desvanecem no ar de forma incendiária. Você me toca com a delicadeza de manusear um violino antigo, e eu me entrego, sem reservas, à canção da saudade. Somos dois estrangeiros perdidos na vastidão do universo, buscando abrigo nas entrelinhas do destino. E assim, nas madrugadas insone, eu me torno um poeta-psicopático de sombras, um alquimista de doutrinas. (...) Escrevo cartas que nunca serão enviadas, versos que jamais encontrarão olhos ou ouvidos. Minhas necessidades especiais são invisíveis, como as asas de um anjo caído, e eu as guardo no cofre secreto do meu peito, essa caixa toráxica de pólvora altamente tóxica... (...) Talvez haja beleza na imperfeição, na fragilidade que nos torna humanos. Enquanto a chuva desenha arabescos nas janelas, eu me permito sonhar com um amor que transcenda o tempo e as estações. Um amor que seja tão etéreo quanto a própria música, a leitura, o cinema, que preenchem a minha alma.


(Cássio D. Versus, 2006)