Levanta, criatura noturna,
teu corpo é ruína sagrada,
tua cama — um caixão preguiçoso
onde sonhos desintregam-se em nada.
Há um sol que nem sabe teu nome,
mas insiste em nascer pra ti.
E o mundo, esse cão sem vergonha,
ainda lambe teus calcanhares por aí.
Ergue o osso, estala a alma,
desamarra essa vontade vencida.
Não foste feito pra lençol úmido,
mas pra cuspir poesia na ferida.
Deita os olhos, sim, no espelho,
mas não deita mais o corpo inteiro.
Acordar não é dom — é vingança:
existir apesar do cansaço primeiro.
Vai. Um passo. Um grito. Um gole.
Um suspiro já muda o destino.
Porque até a mais preguiçosa estrela
caminha no ventre do céu clandestino.
(D. Versus)
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