7 de set. de 2024

A memória, o passado, o espelho, a dor e a vida


Sob a luz pálida de um quarto sem número o eco distante de uma vida sem nome outrora vigorosa pulsa nas paredes desbotadas. A memória é um vício que dilacera suavemente, uma agulha brutal de saudade perfurando a carne da indiferença. O passado, um amante inesquecível, espreita em cada sombra, sussurrando promessas quebradas e juras falidas de eternidade. Na sinfonia do silêncio, os sonhos despedaçados balançam, frágeis como teias de aranha à mercê do mais leve sopro. O espelho, testemunha muda, reflete um semblante corroído pela velocidade dos relógios, olhos que procuram aquilo que foi perdido, ou talvez, aquilo que nunca existiu. A dor é uma companheira fiel, fiel demais, uma musa trágica que inspira o verso amargo da solidão. A vida segue seu curso, arrastando-se pelos corredores do manicômio abandonado, onde o desejo e a desesperança dançam sua valsa letárgica. Cada passo, uma ferida reaberta, cada respiração, um grito abafado de um coração que não sabe desistir. E assim, envolto na névoa da imaginação herdeira de sua própria liberdade, o presente dissolve-se, dando lugar a um vazio preenchido apenas pelo anseio do que nunca poderá ser novamente.


(Cássio D. Versus)

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