Ensaios para uma Tragada Ontológica
Ou como o cigarro continua sendo a bengala emocional
do homo sapiens, mesmo depois do apocalipse sanitário.
Um homem acende um cigarro. Não é fome, não é desejo. É um gesto ancestral: uma vela acesa no velório do próprio tédio. O fogo não aquece — lembra. A cada tragada, ele não suga a fumaça: é a vida que o aspira. Mas ali, entre o pulmão que apodrece e o instante que se alonga, há silêncio. Há algo parecido com paz. E talvez, só talvez, no fundo da garganta seca, ele sussurre: “Pelo menos aqui, ninguém me cobra ser feliz.”
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Ass.: Versus In Fumo
(Soprado às cinzas de um maço quase vazio)
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