11 de set. de 2024

ecos da penumbra


isolacionismo?

o que enfrentou em marés enfrentarás também entre as nuvens

- já possuiu uma árvore por simples diversão?
- não, mas soube que é mais difícil do que feito com pessoas.

um deus que nos tente a fraqueza
enquanto a cura nos testa inerte em orações
uma inocência que para nada nos serve.

o fogo purifica, o frio revigora,

o erro não é agir mas analisar a ação
(pelo menos para gente como nós)

sangrando demais a ponto
de sujar todo o quarto
e é bonita a escapada
nesse momento radiante
escorre escarlate

não demora tanto para o silêncio adotar um voluntário

o instante em que a escuridão se comunica
a alma suplica conexão

observo as janelas dos minúsculos apartamentos
apontadas para o corredor
subo escadas e ouço gritos
prazer ou pavor, sempre confundo.

forte o sabor de um murmúrio doloroso
enquanto os meus dentes queimam
a carne macia e gelada do teu pescoço.

aposto que um dia voltarei a este bairro
para encontrar os fantasmas que deixei no esboço.


(anotações aleatórias encontradas em um caderno de 2005)

7 de set. de 2024

A memória, o passado, o espelho, a dor e a vida


Sob a luz pálida de um quarto sem número o eco distante de uma vida sem nome outrora vigorosa pulsa nas paredes desbotadas. A memória é um vício que dilacera suavemente, uma agulha brutal de saudade perfurando a carne da indiferença. O passado, um amante inesquecível, espreita em cada sombra, sussurrando promessas quebradas e juras falidas de eternidade. Na sinfonia do silêncio, os sonhos despedaçados balançam, frágeis como teias de aranha à mercê do mais leve sopro. O espelho, testemunha muda, reflete um semblante corroído pela velocidade dos relógios, olhos que procuram aquilo que foi perdido, ou talvez, aquilo que nunca existiu. A dor é uma companheira fiel, fiel demais, uma musa trágica que inspira o verso amargo da solidão. A vida segue seu curso, arrastando-se pelos corredores do manicômio abandonado, onde o desejo e a desesperança dançam sua valsa letárgica. Cada passo, uma ferida reaberta, cada respiração, um grito abafado de um coração que não sabe desistir. E assim, envolto na névoa da imaginação herdeira de sua própria liberdade, o presente dissolve-se, dando lugar a um vazio preenchido apenas pelo anseio do que nunca poderá ser novamente.


(Cássio D. Versus)