(Cássio D. Versus & Jess de Camargo)
19 de mar. de 2025
14/03/2025 Eclipse Lunar de 02h15 a 04h50
10 de mar. de 2025
tenho escutado pelas madrugadas neste lugar
um decreto fantasma que atravessa portas cerradas,
penetrando o silêncio de quem já se acostumou a não existir.
Na penumbra das janelas, olhos espiam a ausência de movimento,
como se o próprio ar tivesse sido condenado à imobilidade.
O tempo não pesa—escoa, evaporando destinos,
enquanto as sombras se estendem, fingindo não ver.
Quantos pés já marcharam sob ordens inaudíveis?
Quantas vozes se calaram antes mesmo de aprender a falar?
A noite engole perguntas que ninguém ousa fazer,
e o vento, cúmplice da história, apenas leva consigo o que sobra.
(Cássio D. Versus)
8 de mar. de 2025
Carnaval para um corpo sem vida
Fiquei ali, congelado, não por medo, mas por um tipo de espanto que só se sente diante daquilo que transcende o ordinário. Ele respirou uma última vez. Eu vi. O último sopro, o adeus invisível que se perde no vento, sem aplauso, sem cerimônia.
E então, tudo fez sentido. O absurdo da existência revelou-se como um espelho atroz. Passamos a vida temendo monstros e mitologias, mas esquecemos que o maior horror é a banalidade da morte, sua simplicidade cruel. Um momento estamos, no seguinte, não mais. Como um pensamento que se forma e se dissolve antes de ser dito, como uma vela que se apaga sem resistência ao próprio destino do sopro.
Passageiro Sombrio
Nos desertos do pensamento erguem-se sombras sem nome, espectros que sussurram na noite, que tentam e desviam, que semeiam o medo e colhem a perdição. Não são feitos de carne ou de ossos, não portam garras nem presas, mas destroem com dúvidas e consomem com angústia.
Caim não precisou de um demônio para erguer sua mão contra Abel — sua inveja foi suficiente. Judas não teve um espectro a lhe segredar a traição — a prata pesou mais que sua fé. Assim são os monstros internos: nascem do desejo, crescem no silêncio e devoram na hora mais escura.
Aqueles que buscam dragões lá fora esquecem que os verdadeiros habitam o espelho. Pois antes de buscar expulsar demônios do mundo, é preciso exorcizar os que se aninham na mente, pois "o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mateus 26:41).
não tão bom assim
mas que não queimam, apenas ardem
num lume falso, sem cor.
Sou um eco de frases decoradas,
um palco sem cena, um papel sem traços.
O tempo me engole sem mastigar,
e sigo vivendo sem alguns pedaços.
Não há ternura no que respiro,
apenas metas traçadas a frio,
o cálculo exato de um pessoal vazio,
Tipo esboço sem traço, fino e macio.
E não sou digno do toque da graça,
não, não sou digno do toque da graça.